A boa reputação de Portugal na União Europeia, os prémios no turismo e a influência de algumas celebridades mundiais, trouxeram a fama e o aumento da procura pelo país, refletindo-se na especulação imobiliária e na aceleração do setor da construção. Esta aceleração trouxe alguma mão de obra proveniente da emigração, as carrinhas saíram das garagens preenchendo as estradas e notou-se o aparecimento de novas empresas de pequena dimensão, para dar resposta à procura. No entanto, quando a procura supera a oferta, gera-se uma predisposição de que basta não trabalhar mal para se ter trabalho.
Corona vírus em obra
Com a chegada do estado de emergência veio uma inevitável incerteza sobre o futuro. Ao nível do investimento no setor da construção não houve exceção, refletindo-se numa queda abrupta nos pedidos de orçamentos, estagnação de concursos e adiamento do início das empreitadas adjudicadas em habitação própria, devido ao natural desconforto dos proprietários sobre a presença de pessoal estranho em fase de confinamento. Por outro lado, as obras “pré-corona” não sofreram com o aparecimento do vírus, criando-se este cenário atípico que se vive presentemente no setor, em que, sendo das poucas atividades que continuaram com uma “normalidade adaptada”, verificaram-se situações que alguns nunca tinham presenciado – mão de obra a bater à porta das obras.
Notou-se uma adaptação às circunstâncias com a (tentativa de) implementação de regras de prevenção de contagio, através de medidas como o apelo à higiene (mais regular), desinfeção com álcool ou gel desinfetante, uso de máscara e, em casos mais particulares, a criação de zonas de isolamento nos estaleiros das obras, apetrechadas com toalhitas de limpeza, luvas e máscaras descartáveis, álcool/gel e termómetro, para os eventuais casos suspeitos de infeção. Em obras ditas “mais acompanhadas”, foram dadas formações de prevenção pelos técnicos de segurança.
No entanto, esta adaptação da construção à pandemia foi, naturalmente, deixada à mercê do critério das empresas e direções de obra, altamente sujeita à (in)disponibilidade dos stocks das farmácias e à (in)disponibilidade dos responsáveis pela reposição dos kits em obra, mas, acima de tudo, à mercê de cada um de nós, pois se nos deparamos frequentemente com uma total inconsciência sobre a correta utilização dos equipamentos de proteção em ambientes controlados – como o ir ao café comer um queque, pegando com as luvas – qual a expectativa das boas práticas da prevenção do contagio em ambiente de obra, com todos os seus condicionalismos?
Pós-COVID
Muito se especula sobre o futuro, sendo certo que estamos naturalmente dependentes da performance do país ao longo do período de desconfinamento, se haverá novos picos na curva de contágio ou o aparecimento de segundas vagas da pandemia. De qualquer modo, prevê-se uma inevitável queda nos valores do mercado imobiliário com maior ou menor expressão, não para valores de crise, mas, certamente, para valores menos especulativos, que terão natural influência no setor da construção.
Autor: João Damásio
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