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  • Foto do escritorJoão Correia Gomes

O QUE LEVA AO PROGRESSO? (QUE TODOS PRECISAMOS)


Para onde vamos no século XXI?


As crises e conflitos têm sido os catalisadores de mudança. Permitiram a renovação e evolução da sociedade e economia. Os abalos fomentavam mais alterações além das que antes timidamente se encontravam em curso. Aconteceu com as grandes guerras ou pandemias que marcaram no passado. As notícias que recebemos todos os dias sinalizam mudanças para breve, mas com um desfecho que não é possível profetizar. Os sinais aceleram, numa espiral de eventos que emergem, se relacionam e reforçam em si. O efeito é provocado pela explosão de informação real a boatos enganadores que se disseminam nas redes sociais e induzem reações massivas da população. Passa-se com o Covid-19 ou o assassínio de um negro americano pela polícia que o deveria proteger!


Como na natureza, as sociedades geram desequilíbrios e, de algum modo, serão eliminados e substituídos. É um efeito que decorre de sistemas abertos, depende da intensiva e massiva interação das suas unidades vivas. Num modelo de mundo muito interligado pelas redes, é provável que novos eventos aticem para mais conflitos. Cresce uma consciência global, aberta, um mundo neuronal a que não fomos preparados.


A Natureza abala tudo o que não está equilibrado para repor um novo normal. O mundo natural sofre com as alterações climáticas e a exploração do planeta, podendo conduz à sexta extinção, neste caso da espécie humana. A sociedade de mercado instalada é hoje demasiado desequilibrada, perde-se equidade na partilha de riqueza entre todos. A concentração de riqueza é excessiva, abusadora, e tende a conduzir para explosões sociais. E a faísca pode ser um evento como o banal assassínio de uma pessoa pela polícia nos EUA.


Mas, qual poderá ser o novo equilíbrio do mundo?


O planeta é demasiado limitado para todos os humanos consumirem de modo igual às classes médias ocidentais, produzir para usar e deitar fora. A Natureza não aguenta. Também já não é possível esconder de todos os humanos o elevado nível de vida que um minúsculo segmento da população privilegiado, mas deixar morrer de fome e de aspirações a restante população. As revoluções sociais do passado nasceram deste tipo de desarmonias.


O modelo de produção e distribuição de bens terá de ser muito diferente. Esperam-se novas atitudes com parcimónia na produção e a partilha no uso. Isto apenas para a sobrevivência da espécie. Os humanos terão de aprender e a relevar o uso e a experiência nesse uso, com desprezo a posse individual dos bens. É preciso um novo paradigma social e económico. Já existem fortes sinais para a mudança. São exemplos os serviços como o UBER ou o Airbnb. Ou o capitalismo partilhado expresso na titularização da propriedade.

E em Portugal?


Para ser competitiva na era atual de revoluções em curso (tecnológica, social, económica e politica), a economia terá de abordar óticas diferentes das atuais. Os conceitos ainda em vigor têm origem nas duas primeiras revoluções industriais que suportaram todas as grandes transformações sociais, políticas e económicas dos últimos 200 anos. Ao contrário do presente, a ótica atual deve ser de longo-prazo e abranger uma consciência unitária do planeta. Para sobreviver terá de ser sustentável, focar na eficiência e eficácia mas com critérios dinâmicos de gestão (ao contrário dos usuais critérios estáticos e determinísticos). Deve focar no mercado competitivo global, e não apenas concentrar-se no pequeno país.

A continuar assim, será certo o caminho da estagnação dos últimos 20 anos.


Infelizmente, o sistema produtivo nacional configura-se ainda pouco atraente para o investidor externo, exceto na subcontratação da produção. Excetuam-se os casos excecionais do produto de férias ou para residência neste “paraíso” à beira mar plantado. Mas tais produtos bem-sucedidos conferem baixo valor acrescentado, não melhoram a produtividade, logo contribuem pouco para a qualidade de vida dos portugueses. Outro caso indicado do sucesso nacional deriva da indústria exportadora, sobretudo localizada no Norte do país. Mas, grande parte desses negócios é frágil quando apenas produz bens intermédios que são enviados para outros países incorporarem valor acrescentado pela marca reconhecida que detêm. Bons exemplos são a indústria de têxteis (que produz para grandes marcas internacionais) ou o azeite (produzido cá, mas reconhecido como o melhor do mundo por marcas estrangeiras). O modelo de produção nacional tende a possuir elevada qualidade, mas despercebida, logo mal paga, o que só pode significar a estagnação do país.

A cultura empresarial instalada é o importante ponto crítico desta economia. O empresário comum nacional parece padecer de atributos menos adequados às necessidades de uma competitividade global. Talvez seja devido ao baixo nível de qualificação dos empresários que se apercebem do interesse do conhecimento técnico mais sofisticado, prefere o empirismo manual. Ou talvez o apadrinhamento ou controlo publico dos últimos cem anos?


O empresário típico tende a não implementar um modelo de gestão racional com uma organização eficaz e eficiente. É muito conservador. É pouco flexível, inovador, embora ambicioso. Tende a procurar o poder público para apoios financeiros, não o mercado, tornando-se dependente do Estado (mesmo os mais liberais!). Foca-se mais no endividamento por crédito à banca. Não tem interesse no mercado de capitais, talvez para não perder o controlo do negócio face à sua fraca sofisticação, pelo que é muito descapitalizado para investir e crescer.


Quase todo o tecido empresarial nacional é constituído por microempresas (quase na escala do vão de escada), sem capacidade crítica de ultrapassar as dificuldades imediatas. Grande parte dessas empresas é explorada na produção para intermediários e geram pouco valor acrescentado. Os processos de produção focam-se muito no que é tangível e simples.


Desprezam-se os fatores intangíveis que são os que marcam a diferença competitiva.


Criar valor efetivo no século XXI será distinto do que estamos habituados. Requer-se modelos de negócio mais inteligentes e menos grosseiros. É preciso dominar toda a cadeia de negócio desde a criação do conceito e plano de negócio até à entrega ao cliente final, o único que atribui o valor ao produto. O processo de negócio deve integrar mais intangibilidades como o conhecimento, criatividade, inovação, o saber vender (marketing, comunicação, criar marca), a gestão eficaz que integra o planeamento e controlo. O principal motor da economia deve basear-se nas pessoas, com as suas diferenças culturais, mas qualificadas para vencer neste novo mundo.


Os negócios parecem modernos e sofisticados porque apresentam tecnologia avançada, regra geral importada. Mas esta prática não é eficaz quando a sua operação não é eficiente, não existe noção de custo de ciclo de vida, depende de organizações e modelos de gestão muito obsoletos, quase burocráticos. Os critérios de análise de negócio tendem a ser estáticos num horizonte curto. Não é prática frequente premiar-se o mérito e a competência de quem realmente, mas antes a lealdade (à chefia), as horas-extra dadas ao serviço, muitas vezes improdutivas (pois a presença no posto de trabalho é muito apreciada).

Outro fator negativo, não desligado do anterior, é o ambiente institucional. Este tende a ser pouco atrativo para o investidor externo. A produção legislativa e fiscal, os sistemas de justiça e os processos de licenciamento tendem a ser complexos, difíceis, demorados, instáveis, burocratizados, intrometidos, não isentos, logo nada interessantes. O risco efetivo é visto como muito elevado. Os investidores externos têm muito melhores opções em outras economias.


E o futuro do país?


Depois, há o futuro. Em Portugal a mudança não será fácil. O principal fator de intervenção não é o Estado, mas a cultura mental da sociedade em geral. Todos (mesmo liberais) apontam ao Estado o principal dever para a mudança. É normal num país apático, habituado ao intervencionismo e controlo público, desde o Estado Novo. A obrigação do Estado deve cingir-se a melhorar a eficiência das suas instituições, tornando-as mais regulares e menos ávidas. Deve desligar e deixar respirar a economia real, não a estrangular com as suas próprias decisões, ineficiências e burocracia irresponsáveis.

O progresso do país não se faz pela tecnologia que é importada, logo é valor criado por outrem. No início, esta deve apenas servir como catalisador do crescimento, depois ser substituída por meios próprios. Importar tecnologia para a produção com pouco valor criado beneficia alemães e chineses que a produzem. Manter a tradicional situação de dependência no longo prazo apenas configura um progresso aparente, mas não é efetivo.


Um grupo essencial que provoca progresso é o dos jovens. Porque são mais irreverentes, inconformados, descomprometidos (logo isentos), e hoje melhor qualificados. O país confere hoje a boa parte desta população a necessária formação técnica com elevado nível. Por exemplo, a engenharia é essencial para criar elevado valor na produção devido à tecnologia que conforma uma economia moderna. Porém, o modelo corrente de empresa e de gestão não proporciona aos jovens técnicos competentes e ambiciosos as condições mais aceitáveis e horizontes válidos. Tal induz estes jovens a procurar melhores oportunidades de crescimento para países ricos que os recebem melhor. O país fica com os jovens técnicos mais conservadores, acomodados, tiveram sorte com as poucas exceções ou leais a grupos de influência que lhes proporcionaram o emprego de conveniência. Neste ambiente, a economia portuguesa tem um modelo frágil no caminho da estagnação (observado nas últimas décadas).


Cabe a todos nós mudar, senão em breve seremos o país mais pobre da União Europeia!


Será este o objetivo que almejamos como sociedade?

Lisboa, 9 de Junho de 2020

João Correia Gomes


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