top of page
  • Foto do escritorEngenho e Arte

MICROMOBILIDADE, A REVOLUÇÃO NO TRANSPORTE JÁ CHEGOU

Atualizado: 29 de mar. de 2020


AS CIDADES ESTÃO A SER INVADIDAS POR BICICLETAS E TROTINETES, ALTERANDO SIGNIFICATIVAMENTE O PANORAMA DO TRANSPORTE URBANO EM TODO O MUNDO



A revolução da micromobilidade está em grande aceleração e várias startups estão a disputar o seu quota de mercado, com bicicletas e trotinetes elétricas partilhadas. Mergulhámos dentro deste negócio que é já mundial.


A maioria dos moradores dos centros urbanos já viu a explosão de trotinetes e bicicletas partilhadas, que se multiplicam por toda a cidade. Para as cidades que ainda não conheceram este fenómeno, aguardem porque não há de faltar muito tempo.


À medida que o congestionamento nas cidades aumenta, o transporte tradicional de carros, comboios, metro e autocarros não consegue acompanhar o crescente aumento da população. Pegando em dados disponíveis dos EUA, verifica-se que os americanos, por exemplo, perderam em média, 97 horas por ano devido ao congestionamento nas estradas dos grandes centros urbanos, de acordo com o INRIX National Traffic Scorecard de 2018. Em 2018, esse facto custou aos americanos aproximadamente 87 biliões de dólares, uma média de 1348 dólares por condutor.


Com as cidades pressionadas a resolver esta crise nos transportes, principalmente devido à crescente preocupação com as emissões de CO2, as startups de micromobilidade, onde se incluem a Bird, Lime, Mobike e Ofo, estão cada vez mais a ser encaradas como uma alternativa poderosa ao actual mix de transportes públicos.

Micromobilidade refere-se ao transporte de curta distância, geralmente a uma distância menor ou igual a 8 km, muitas vezes também inserindo o que chamamos na gíria o "last mile".


Com os centros urbanos a terem, cada vez mais, maior densidade populacional, a maioria das suas viagens enquadram-se na categoria de micromobilidade, assim, os principais candidatos são o uso de bicicletas e trotinetes. Nos EUA, por exemplo, aproximadamente 60% de todas as viagens são de 8 quilómetros ou menos.



À medida que os consumidores se aproveitam desta tendência crescente, a oportunidade de mercado continua consequentemente em crescimento. Só nos EUA, o mercado de micromobilidade deverá valer entre 200 e 300 biliões de dólares, até 2030. Em todo o mundo, os investidores já aplicaram mais de 5,7 biliões de dólares em startups de micromobilidade, isto apenas nos últimos 4 anos.


Embora haja certamente alguns desafios que acompanham esta tendência explosiva da micromobilidade, incluindo a falta de regulamentação, proibições em toda a cidade ou mesmo roubo de veículos, este fenómeno mantém o potencial de estimular e abanar massivamente o sector de mobilidade em todo o mundo.


Nesta análise, verificámos as iniciativas de micromobilidade em todo o mundo, bem como os desafios enfrentados na adopção destas soluções de mobilidade.



Porquê a mudança para a micromobilidade?


As cidades em todo o mundo estão a crescer rapidamente em tamanho e população.


De facto, as projecções mostram que até 2050, mais 2,5 biliões de pessoas residirão em áreas urbanas em todo o mundo. Com a maioria das cidades a ter presentemente, a necessidade de lidar com níveis perigosos de poluição e estradas congestionadas pelo transito infernal, a micromobilidade pode resolver alguns problemas.


Entre muitos casos de uso, os serviços de micromobilidade aumentam o acesso ao transporte público, reduzem a quantidade de carros na estrada, diminuem a pegada ambiental e fornecem métodos convenientes de transporte para viagens curtas, tudo isto de uma forma economicamente viável.


As trotinetes eléctricas, por exemplo, também podem ser mais eficientes do que outros modos de transporte. Um quilowatt-hora de energia pode levar apenas um carro movido a gasolina a alcançar 1,3 km, de acordo com a Wired. Um veículo eléctrico pode viajar 10 km nas mesmas condições. No entanto, uma trotinete eléctrica pode alcançar os 133 km, usando a mesma quantidade de energia.



Para os moradores da cidade, alugar uma bicicleta ou uma trotinete, geralmente é muito mais barato do que possuir um carro ou optar por utilizar um táxi para se deslocarem. Além disso, o espaço ocupado na estrada e drasticamente menor.


No entanto, ainda existem alguns desafios crescentes associados a motas e trotinetes. Desde o seu aluguer pelo público em geral até questões de regulamentação e de infraestruturas, as soluções de micromobilidade não são adequadas para prosperar em todas as regiões. Falaremos disto mais à frente.


Os benefícios podem ser fantásticos, é exactamente por isso que se vê um enorme entusiasmo e factor de crescimento no negócio.



Ásia lidera o mercado de partilha de bicicletas


A Ásia foi a pioneira no mundo da micromobilidade, com a China a ser o primeiro país a implementar uma plataforma de aluguer de bicicletas, em 2015.


Com menor burocracia regulamentar em comparação com a Europa e a América do Norte, as startups de micromobilidade tiveram a vantagem de conseguir uma implementação rápida nas cidades da Ásia. Essa falta de regulamentação, no entanto, também trouxe grandes problemas, à medida que o mercado ficou saturado, milhões de bicicletas começaram a acumular-se pelas ruas da cidade.


No entanto, num continente repleto de níveis perigosamente altos de poluição urbana e ruas extremamente congestionadas, faz sentido que cidades como Pequim e Xangai estejam na liderança do caminho para reduzir o transporte motorizado, mudando para soluções livres de emissões.


Nos dias de hoje, as bicicletas partilhadas são o terceiro modo de transporte público mais popular na China. Noutros países asiáticos, incluindo Singapura, Taiwan e Coreia do Sul, também estão a obter muito sucesso no mercado da micromobilidade.



China é pioneira em plataformas de partilha de bicicletas


Em 2008, foram lançados programas municipais de partilha de bicicletas nas principais cidades chinesas, num esforço para aliviar os problemas de mobilidade.


O primeiro e mais bem-sucedido programa público na China é o Hangzhou Public Bicycle, lançado pela Corporação de Transporte Público de Hangzhou em Maio de 2008 mas posteriormente várias outras cidades da China criaram programas públicos de partilha de bicicletas, incluindo Pequim, Xangai, Wenzhou, Kunming e Guangzhou.


À medida que as empresas privadas de partilha de bicicletas começaram a expandir-se, os programas públicos diminuíram bastante, embora ainda existam.


Várias startups de micromobilidade chinesas já alcançaram o status de unicórnio (1000 milhões de dólares + avaliações), sendo a primeira, a Ofo, a maior operadora de partilha de bicicletas da China.


Fundada em 2014, a empresa com sede em Pequim, oferece um sistema de partilha de bicicletas, baseado numa aplicação mobile, que efectua a cobrança por hora de utilização.

Em 2016, a Ofo já possuía uma frota de 85.000 bicicletas em toda a China. A empresa garantiu financiamento suficiente por investidores como Alibaba e Xiaomi, para expandir internacionalmente em 2017, para países como Singapura, Austrália, França, EUA, Reino Unido e outros.

A Ofo conseguiu implementar mais de 10 milhões de bicicletas em todo o mundo no auge do negócio. Estamos a falar de números idênticos à população de Portugal.

Recentemente, a enorme startup, tem lutado para se manter à tona com altos custos operacionais e uma concorrência feroz e intensa. A Ofo retirou-se de vários locais ao redor do mundo, tentando assim reduzir custos, chegando mesmo a considerar pedir a falência várias vezes. Apesar da actual crise, o CEO de Ofo, Dai Wei de 28 anos, disse que não tem intenção de baixar os braços na luta com a concorrência ou vender a empresa.


Uma outra empresa de partilha de bicicletas, a Mobike, foi fundada no início de 2015 e também viu o seu crescimento alcançar uma velocidade vertiginosa.

Em 2017, apenas dois anos após a sua criação, a Mobike foi avaliada em cerca de 3 mil milhões de dólares. Em 2018, a empresa já se tinha expandido para mais de 200 cidades em 19 países por todo o mundo, incluindo China, Singapura, Japão, Austrália, EUA, México e Chile.

No entanto, assim como a Ofo, a Mobike tem visto, devido a uma falta de procura da sua vasta frota, os seus investimentos a não gerarem o lucro necessário. Em Abril de 2018, a Mobike foi vendida a uma empresa chinesa de web, Meituan Dianping, por 2,7 mil milhões de dólares. A fim de reduzir custos, a Meituan anunciou o encerramento da maior parte dos seus mercados estrangeiros, enquanto passa por uma reestruturação profunda.


A terceira maior plataforma de partilha de bicicletas da China é a Hellobike, com sede em Xangai.

A Hellobike também alcançou o status de unicórnio com a ajuda de grandes investidores como a Ant Financial, uma filial financeira da Alibaba.

A Hellobike tem como alvo cidades mais pequenas, em vez de se concentrar nas principais cidades da China, já saturadas, sendo que 95% dos clientes da Hellobike residem em cidades de segundo e terceiro níveis. Em Outubro de 2018, a Hellobike operava já em 300 cidades por toda a China, com mais de 20 milhões de utilizadores, todos os dias.



Sudoeste Asiático ganha velocidade


O primeiro “decacorn” do Sudeste Asiático (uma startup com valor superior a 10 mil milhões de dólares) é a empresa Grab, sediada em Singapura.


A Grab decidiu expandir o seu negócio em 2018 para oferecer bicicletas e trotinetes eléctricas partilhadas. O programa ficou conhecido como GrabCycle e foi renomeado para GrabWheels quando a empresa passou a concentrar-se em trotinetes eléctricas em vez de bicicletas, afirmando que as trotinetes são mais adequadas para o clima quente e húmido de Singapura assim como espaço limitado para a circulação.

Actualmente, as trotinetes GrabWheels, estão disponíveis apenas no campus da Universidade Nacional de Singapura, embora a Grab espere implementar em mais locais da ilha num futuro próximo.


A startup Neuron Mobility, com sede em Singapura, oferece bicicletas e trotinetes eléctricas no sudeste da Ásia. A Neuron Mobility arrecadou nada mais nada menos que 3,66 milhões de dólares com o seu negócio de melhoramento da mobilidade urbana.

A Neuron expandiu-se para Bangkok e Chiang Mai na Tailândia, mais recentemente, para Cyberjaya na Malásia, no início de 2019. Actualmente, opera a maior frota de trotinetes eléctricas partilhadas em Singapura e Tailândia. Nos investidores estão incluídas empresas como a SeedPlus e a Ace Capital.


Quanto às empresas estrangeiras que se expandiram para o mercado asiático, os principais concorrentes são a Bird e a Lime, sediadas nos EUA. A Bird também está no processo de exploração a expansão em Mumbai, Bangkok, Singapura, Seul e Hanói. A Lime opera em Singapura desde Novembro de 2018.



Uma mudança para as trotinetes na América do Norte


Os EUA foram o primeiro país a ver trotinetes eléctricas a circular pelas suas ruas.


Em Setembro de 2017, a Bird enviou centenas de trotinetes para as ruas de Santa Mónica na Califórnia. Assim, tal como na estreia de empresas como a Uber ou a Lyft, houve uma reacção muito positiva por parte da população por todo o país.


No entanto, apesar de algumas burocracias a nível regulamentar ao longo do caminho, a moda pegou e as trotinetes partiram rumo ao sucesso, testemunhando um crescimento muito agressivo. Várias empresas de partilha de trotinetes nos Estados Unidos conseguiram alcançar o status de unicórnio, à velocidade da luz, crescimento esse apoiado por grandes investidores que investem milhões de dólares no negócio.


Além disso, cerca de 70% dos americanos que vivem nas principais áreas urbanas vêm as trotinetes eléctricas de uma forma positiva, de acordo com uma pesquisa elaborada em 2018.

Quanto aos programas de bicicletas partilhadas, modelo de negócio existente na maioria das grandes cidades da América do Norte de há 10 anos para cá, com o primeiro sistema de larga escala lançado em maio de 2009, em Montreal.



No entanto, foi nos últimos anos, que o mercado de micromobilidade das bicicletas viu as oportunidades de crescimento aparecerem, muito devendo-se à concorrência criada. O uso de bicicletas partilhadas nos EUA, aumentou 25% apenas entre 2016 e 2017, já o número de bicicletas duplicou no mesmo período, para cerca de 100.000 bicicletas.



BIRD E LIME: Os melhores unicórnios de trotinetes


A Bird, com sede na Califórnia, foi a primeira startup de partilha de trotinetes a tornar o seu negócio global.


A empresa alcançou o status de unicórnio em menos de 9 meses, após a sua criação em Setembro de 2017, tornando-a a empresa mais rápida do mundo a atingir uma avaliação de mil milhões de dólares. Apenas quatro meses depois, a Bird dobrou o seu valor para 2 mil milhões de dólares. Nos dias que correm, opera em mais de 100 cidades na América do Norte, Europa e não só. É no entanto Importante realçar que a grande maioria dessas cidades está dentro dos EUA.



O maior concorrente da Bird é a Lime, uma empresa de transporte, que oferece bicicletas e trotinetes para partilha.


A Lime também alcançou rapidamente o status de unicórnio e actualmente é avaliada em 2,4 mil milhões de dólares. A Uber é uma investidora e parceira notável da Lime, a startup fornece à Uber, bicicletas eléctricas para o serviço "Uber Bikes". A Lime investiu em mais de 90 cidades somente nos EUA. Expandindo-se rapidamente para todo o mundo, estando presente na Europa, América do Sul e Ásia.



Empresas americanas de transporte juntam-se à micromobilidade

As maiores empresas de transporte rodoviário da América do Norte entraram recentemente na onda da micromobilidade, num esforço de garantirem oferta de todas as formas de transporte no seu portefólio de serviços.


Com a aquisição da empresa de partilha de bicicletas Motivate, a Lyft tornou-se o maior serviço de partilha de bicicletas da América do Norte no final de 2018.


Como resultado, a Lyft possui agora a maioria dos programas de partilha de bicicletas mais populares dos EUA, incluindo Citi Bike em Nova Iorque, Ford GoBike em São Francisco, Divvy em Chicago, Bluebikes em Boston. A Lyft lançou também várias frotas de trotinetes eléctricas nas cidades americanas no final de 2018, incluindo Denver, Austin, Atlanta, Los Angeles e Nashville.


A CEO da Uber afirmou que está muito optimista relativamente aos veículos eléctricos pessoais, acreditando que com o passar do tempo, cada vez menos pessoas optem pelo carro para efectuarem as suas deslocações diárias.

"Na hora de ponta, não é de todo eficiente um monte de metal, com uma tonelada, levar uma pessoa a percorrer curtas distâncias", afirmou a CEO da Uber. Acrescentou ainda que estima que o transporte efectuado com carros, seja responsável por menos de 50% dos negócios da Uber nos próximos 10 anos.



Trotinetes têm rápido crescimento no mercado Sul Americano

Muitas das grandes áreas metropolitanas da América do Sul estão frequentemente congestionadas e não possuem sistemas de transporte público suficientes, principalmente durante as horas de ponta. Como resultado, soluções de micromobilidade, como os programas de partilha de bicicleta e trotinetes eléctricas, são uma solução muito atraente para a qual muitas cidades estão a virar os holofotes.


Embora a tendência da micromobilidade não tenha ainda explodido na América do Sul, a região está a trabalhar no desenvolvimento da sua presença no ramo da micromobilidade, principalmente em São Paulo no Brasil, a maior cidade da América do Sul.



Principais startups de micromobilidade unem forças no Brasil

A principal startup de micromobilidade na América do Sul actualmente é a Yellow, com sede em São Paulo. Fundada em 2017, a Yellow é um serviço de partilha de bicicletas e trotinetes, que representa um dos maiores financiamentos da Série A na história da América do Sul, alcançando uns “meros” 63 milhões de dólares.


A Yellow fundiu-se recentemente com a Grin, uma startup de trotinetes eléctricas, sediada na Cidade do México e apoiada pela Y Combinator. Esta fusão deu origem à Grow Mobility. Hoje, a Grow Mobility vê a sua frota de 100.000 trotinetes eléctricas e 35.000 bicicletas circular na América do Sul, com planos em andamento para duplicar a sua frota ao longo do ano.


"A procura por estes serviços, todos os dias na América Latina, é enorme. Assim, combinando forças e recursos, poderemos avançar rapidamente para atender cada vez a mais clientes", afirmou o co-fundador e CEO da Grin, Sergio Romo.

Grow Mobility tem alguns concorrentes a ganhar força no mercado A Cosmic Go é uma startup muito recente, que está a lançar trotinetes pelas cidades colombianas. Para já a empresa possui frotas em Bogotá e Medellín, mais recentemente, expandiu-se para Cartagena. O seu objectivo é implementar 100.000 unidades na Colômbia.


A startup de micromobilidade de Madrid, Movo, expandiu-se internacionalmente para vários países da América do Sul, montando frotas de trotinetes eléctricas na Colômbia, Peru e Chile. A empresa planeia expandir-se para a Argentina, Brasil e Uruguai até o final de ano.



Muitos dos programas públicos de bicicletas na América do sul são gratuitos


É interessante constatar que a maioria dos programas públicos de partilha de bicicletas na América do Sul são totalmente gratuitos.


Por exemplo, Medellín na Colômbia, possui um programa público de partilha de bicicletas desde 2011. Foi o primeiro a ser criado na América do Sul. O sistema EnCicla Bike Share oferece aos residentes e turistas de Medellín acesso a mais de 1.000 bicicletas de forma totalmente gratuita.


Buenos Aires na Argentina, possui um sistema público de partilha de bicicletas conhecido como EcoBici, programa esse que tem vindo a crescer desde 2010. O EcoBici é totalmente gratuito para todos os residentes e turistas. A cidade também está a ver alargada a sua oferta de ciclovias, à medida que continuam a implementar bicicletas e respectivas estações. Quando a expansão for concluída, Buenos Aires terá 200 estações, 3.000 bicicletas gratuitas e 250 km de ciclovias por toda a cidade.



San Lorenzo, na Argentina, também lançou um programa gratuito de partilha de bicicletas em 2016, chamado Biciudad, administrado pelo governo de San Lorenzo, num esforço para reduzir o número de veículos poluentes na cidade.


Outros sistemas públicos e gratuitos de bicicletas na América do Sul, incluem o BiciQuito em Quito no Equador, e o Movete em Montevidéu no Uruguai.


Esta abundância de programas públicos pode ser um obstáculo ao lucro das startups de micromobilidade na América do Sul, isto porque o público alvo tende sempre a escolher a alternativa gratuita. Assim, acreditamos que as trotinetes eléctricas possam ter mais sucesso na região.



Investidores orientam a sua atenção para as oportunidades na Europa

Micromobilidade não é um conceito novo por toda a Europa. De facto, as cidades europeias foram algumas das primeiras a oferecer bicicletas partilhadas como serviço público. Na Dinamarca por exemplo, 90% da população possui uma bicicleta, enquanto apenas 56% possui um carro.


Em toda a Europa, o mercado de bicicletas foi avaliado em quase 13,5 biliões de euros em 2016 e deve crescer a uma taxa anual de 5,5% até 2022. O mercado de automóveis na Europa, por comparação, deve crescer apenas 1,7% até 2024, informação divulgada pela Federação Europeia de Ciclistas.


A cidade francesa La Rochelle, lançou um programa de partilha de bicicletas em 1974, estando em funcionamento até aos dias de hoje. O Velib em Paris, substituído em 2018 pelo Velib Metropole, foi um dos maiores programas públicos de partilha de bicicletas fora da China. Desde então, tornou-se o modelo de implementação adequada para um sistema de partilha de bicicletas.


A JCDecaux, a maior empresa de publicidade ao ar livre do mundo, foi a base do negócio de aluguer de bicicletas. Oferece hoje milhares de bicicletas em muitas nações europeias, em cidades como Paris, Bruxelas, Dublin, Luxemburgo, Viena e Valência.



2019 foi o ano da trotinete para a Europa


Com muitas cidades da Europa a prepararem-se para proibir a circulação de veículos a gasolina e diesel num futuro próximo, o grande aumento de veículos eléctricos é algo inevitável. Desde o final de 2018, houve um aumento constante no lançamento de trotinetes eléctricas partilhadas em diversas cidades europeias.


O MyTaxi, uma das maiores aplicações mobile de táxi da Europa, iniciou também recentemente um programa de trotinetes eléctricas por toda a Europa, lançando primeiro em Lisboa, uma frota de 600 unidades. Actualmente, são alugadas recorrendo a uma aplicação para smartphones.


O MyTaxi pertence à empresa alemã Daimler, empresa esta que está a desenvolver a sua própria linha de trotinetes, equipadas com hardware robusto, adequado para regiões com condições climatéricas mais adversas, como no norte da Europa.


Além disso, muitas empresas norte-americanas estão a entrar no mercado europeu, onde se incluem a Lime, a Bird e a Uber.


Até agora, a Lime já chegou a mais de 10 países da Europa. Já se tornou a plataforma de viagens mais popular em França.



A Bird entrou no mercado europeu em Paris no final de 2018. Rapidamente alcançou a popularidade, com mais de 50.000 viagens em apenas dois meses. As trotinetas pertencentes à Bird, podem ser encontradas em várias cidades de Portugal, Bélgica, Reino Unido, França, Áustria, Espanha e Suíça.


No início de Abril de 2019, a Uber escolheu Madrid como a primeira cidade europeia a expandir o seu serviço de partilha de trotinetes e bicicletas eléctricas Jump, lançando 566 trotinetes na capital da Espanha. A Uber planeia continuar a sua expansão pela Europa após concluir este projecto piloto.



Dinheiro começa a chegar


Os investidores constataram a grande oportunidade de negócio presente nas trotinetes em solo europeu, onde as cidades têm populações mais densas e muito mais ciclovias do que a maioria das cidades americanas. Assim, a injecção de capital em empresas sediadas na Europa, tem sido muito grande, com o intuito de combater a crescente concorrência de empresas com sede nos EUA que começam a mergulhar no mercado europeu.


A empresa VOI Technology já arrecadou mais de 7,3 milhões de euros neste mercado desde o seu lançamento em Agosto de 2018. A startup sueca garantiu investimentos de fundos de risco como a Balderton Capital, Vostok New Ventures, Projeto A e a Creandum.



Actualmente, a VOI oferece os seus serviços em cidades por toda a Europa, em países como a Suécia, Dinamarca, Espanha, Portugal, Finlândia e França. A empresa está a fazer uso de fundos recém-levantados para expandir para Itália, Alemanha e Noruega.


A startup de trotinetes com sede em Berlim, a Tier Mobility, conseguiu mais de 25,5 milhões de euros em financiamento no final de 2018, financiamento esse liderado pela Northzone Ventures, entre outros, como a Speedinvest e a Point Nine. Actualmente, a Tier está activa em mais de 20 cidades da Europa e do Médio Oriente.



Micromobilidade ainda não chegou a África


Com infraestruturas limitadas, que não garantem o apoio necessário à exploração destas plataformas, a maioria das cidades de África ainda não assistiu à chegada de programas de micromobilidade. Ainda assim, com a ajuda de organizações como a ONU, a impulsionar os programas, o continente poderá eventualmente sofrer algumas mudanças brevemente.


Além disso, à medida que cidades por toda a África continuam a construir um vasto número de infraestruturas, a partilha de bicicletas e trotinetes pode tornar-se uma opção mais viável para os habitantes do continente. Até agora, Marrocos e Egipto parecem liderar o caminho, no que a programas de micromobilidade diz respeito.

A ONU dá uma mãozinha

Marraquexe, em 2016, foi a primeira cidade de África a lançar um programa de partilha de bicicletas por toda a cidade. Medinabike é apoiado pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (ONUDI), o Global Environment Facility (GEF) e é administrado pelo Ministério do Meio Ambiente de Marrocos. Medinabike possui 300 bicicletas disponíveis para o uso da população de Marraquexe.


Na primavera de 2018, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente fez uma parceria com a Mobike para lançar um esquema de partilha de bicicletas para o complexo da ONU em Nairobi, no Quénia. Funcionários e visitantes podem usar estas bicicletas de forma gratuita sem necessitarem de recorrer a uma aplicação mobile. Este esquema de partilha, foi apresentado durante a Africa Clean Mobility Week, num esforço para mostrar como os programas de partilha de bicicletas podem ser usados ​​em toda a África como uma opção ambientalmente amigável para o transporte.


No Cairo também foi lançado um programa público de partilha de bicicletas em Maio de 2018, chamado "Sekketak Khadra", como quem diz "a sua estrada é verde". O governo do Cairo fez uma parceria com o Programa de Povoamento Humano da ONU (UNHABITAT) para instalar várias centenas de bicicletas na capital do Egipto.



Algumas startups africanas começam a surgir


A empresa francesa de bicicletas Smoove é a fornecedora do programa Medinabike em Marraquexe.


A Smoove possui um contrato de cinco anos com o governo da cidade. Em 2018 venceram um concurso para o lançamento de uma frota de bicicletas partilhadas em Lagos, na Nigéria. No entanto, até o momento, parece que não houve progresso neste projecto, possivelmente devido às fracas infraestruturas rodoviárias da cidade.


A Baddel é a primeira startup desta área de negócio, no norte da África, com sede na cidade do Cairo no Egipto. A empresa lançou uma frota de 101 bicicletas eléctricas e 15 estações de levantamento e depósito, na cidade turística de El Gouna. A Baddel planeia lançar mais frotas destas bicicletas eléctricas em todo o norte da África.



Desafiar a micromobilidade


Embora a tendência da micromobilidade continue em crescimento por todo o mundo, ainda existem vários desafios que impedem a sua adopção por completo, incluindo infraestruturas limitadas, falta de regulamentação, proibições em toda a cidade e roubo de equipamentos.


Infraestruturas da cidade


Se uma cidade não possui as infraestruturas adequadas, como ciclovias suficientes, a adopção de bicicletas e de trotinetes partilhadas torna-se difícil e até mesmo perigosa para o público. Esta é uma das razões pelas quais a micromobilidade ainda não arrancou em países por toda África ou na Índia, um dos países mais populosos do mundo.


Na África do Sul, por exemplo, o ciclismo é visto como um desporto de elite para os ricos ou como um meio de transporte reservado para os pobres. Como resultado, a maioria dos sul-africanos tem muito pouco interesse em andar de bicicleta pela cidade. Em Joanesburgo, o ciclismo representa apenas 0,2% de todas as viagens realizadas na cidade.


Até que os países possam estabelecer uma infraestrutura adequada, é improvável que a tendência da micromobilidade se espalhe por todo o continente, da mesma forma que se espalhou por outras partes do mundo.


O mesmo vale para a Índia, as infraestruturas ainda são em grande parte inadequadas para os cidadãos circularem em segurança utilizando bicicletas e trotinetes eléctricas. No entanto, actualmente o governo está a trabalhar em iniciativas para melhorar as condições dos ciclistas, isto graças à Missão Cidades Inteligentes.



Lucro


Embora muitas empresas de micromobilidade tenham arrecadado milhões de dólares através de investidores, muitas ainda lutam para alcançar um lucro sustentável.


A Ofo tem lutado para se manter à tona, lidando com problemas de cash flow. Neste momento a empresa está à beira da falência com utilizadores a solicitar o reembolso dos seus depósitos, depósitos esses que em média rondam os 14 dólares. Para cortar nos custos, a Ofo optou por se retirar da maioria de mercados estrangeiros, concentrando-se apenas na China.


Os dados indicam que a margem bruta de lucro da Bird é de apenas 19%, a partir de Outubro de 2018. Num esforço para melhorar estas margens, a Bird tem alterado a sua estrutura de preços, chegando a duplicar a taxa paga por minuto em algumas cidades.


Quase metade da receita bruta da Bird destina-se ao pagamento de funcionários para recolher e carregar as trotinetes sem bateria. Os utilizadores também o poderão fazer, tendo assim benefícios financeiros.



A startup Spin fez exactamente isso em Los Angeles, contratou 45 pessoas para se tornarem funcionários em tempo inteiro, recolhendo, carregando ou até mesmo para consertar trotinetes por toda a cidade.


Como o sector de micromobilidade ainda está na sua fase de crescimento exponencial, muitas alterações e ajustes são elaboradas de forma recorrente, à medida que as empresas exploram formas de melhorar as margens de lucro, tornando-se assim mais sustentáveis.



Regulamento


Como as bicicletas e as trotinetes partilhadas ainda são um conceito muito recente, a maioria das cidades não possui regulamentos adequados para a execução destes programas, deixando assim os governos num esforço continuo para descobrirem formas de lidar com o surgimento repentino de uma grande frota destes veículos por toda a cidade.


Com este fluxo maciço de empresas a estabelecerem os seus próprios sistemas de partilha de viagens pelas cidades, vários governantes viram-se obrigados a discutir leis para regulamentar o estabelecimento e o uso destes sistemas de transporte.


No entanto, enquanto algumas cidades comemoram os seus lançamentos bem sucedidos, outras apenas optam por proibir estas empresas de operar, invocando a segurança como o principal argumento.


O governo chinês está a criar novos regulamentos para ajudar a controlar o mercado emergente de micromobilidade, incluindo a punição de utilizadores que deixem bicicletas ou trotinetes fora das áreas permitidas assim como aqueles que vandalizem os equipamentos.


As cidades chinesas também estão a proceder à apreensão de milhares de bicicletas. Em Xangai, o Departamento Municipal de Transportes ordenou que as empresas de partilha de bicicletas se abstivessem de introduzir mais bicicletas nas cidades, tentando assim parar a saturação existente que perdura desde 2017.


Com a velocidade e a imprevisibilidade com que as trotinetes invadem os passeios pedonais, assim como o seu abandono em locais para circulação exclusiva de peões, algumas cidades europeias como Paris estão a proibir a presença destes meios de transporte individual nas zonas de circulação pedonal. Barcelona deu um passo ainda mais à frente, proibindo completamente o uso de trotinetes partilhadas. Actualmente, também são proibidas nas ruas e passeios por todo o Reino Unido.


Felizmente para as empresas de partilha de trotinetes eléctricas, estas leis podem mudar à medida que as empresas trabalham com as cidades para integrar melhor os sistemas de micromobilidade na vida da cidade. A Transport for London recebeu aplicações da Bird e da Lime, para lançar nos seus sistemas em Londres. As duas empresas também criaram uma equipa de trabalho conjunta com as entidades governamentais, dedicando-se exclusivamente à mudança das leis aplicadas desde 1835, leis estas que impediam o seu crescimento no Reino Unido.


A América do Norte possui regulamentos muito mais rigorosos em comparação com a Ásia, o que significa que as startups de micromobilidade não podem crescer tão rapidamente como aconteceu na China. Por exemplo, as empresas precisam de obter licenças e passar por processos legislativos antes de poderem lançar os veículos na maioria das cidades dos EUA.


Se assim não o fizerem, podem enfrentar multas elevadas correndo o risco de serem banidas e proibidas de operar nas respectivas cidades. Temos o exemplo da Bird e da Lime, empresas estas que foram banidas de São Francisco, depois de colocarem centenas de trotinetes nas ruas sem a permissão das autoridades. No geral, porém, os regulamentos podem ser benéficos para cidades e startups, pois impedem que as empresas cresçam de uma forma insustentável.




Integridade do Equipamento


A concorrência aguerrida entre startups de micromobilidade levou à inundação de milhões de bicicletas nas ruas de grandes cidades como Pequim e Xangai, originando muitos problemas.


À medida que as bicicletas se danificavam, as empresas geralmente não tinham mão de obra para as arranjar atempadamente, resultando assim na insatisfação dos clientes, que precisavam de testar várias bicicletas até encontrarem uma que funcionasse correctamente. Além disso, à medida que as empresas que se expandiram rápido demais faliam, as suas frotas acabavam por criar enormes "cemitérios" de bicicletas por toda a China.



O vandalismo e o roubo de veículos tornaram-se uma grande barreira para muitas empresas de micromobilidade. Isto pode não ser tão prejudicial para as maiores empresas do ramo, no entanto as startups mais pequenas correm grandes riscos de falirem, saindo assim de cena eternamente.


Por exemplo, o Gobee.bike, um serviço de partilha de bicicletas, teve que abandonar o negócio em França, em Fevereiro de 2018. Isto porque grande parte da sua frota foi roubada ou vandalizada. Pela mesma razão, já havia encerrado o seu negócio em Bruxelas em 2019.


Além disso, 80% das bicicletas do programa Velib de Paris, foram supostamente roubadas ou danificadas, chegando mesmo algumas delas a serem encontradas, tempos mais tarde, à venda nos mercados negros da Europa Oriental e do norte da África.


As empresas de micromobilidade devem assim, lidar com as despesas associadas à substituição de equipamento roubado, bem como contratar mão de obra suficiente para reparar o equipamento danificado. A Bird e a Lime afirmaram que as suas trotinetes tendem a durar um a dois meses antes de serem substituídas. Num esforço para aumentar a sua vida útil, a Bird actualizou a sua frota para um novo modelo "Bird Zero" em Setembro de 2018, mais robusto e durador, com pneus de núcleo sólido.




Clima


Para cidades com climas mais rigorosos, como as do norte da Europa, a adopção de bicicletas e trotinetes partilhadas não é tão viável. Com chuva e neve, as condições tornam-se perigosas e os acidentes tendem a aumentar. Além disso, a procura diminui drasticamente quando o frio aparece. Digamos que nestas cidades, o negócio é claramente sazonal.


Muitas destas empresas estão a tentar garantir uma oferta de frotas mais resistentes, com uma condução mais segura em condições climatéricas adversas.



A Skip já distribuiu luvas e gorros da marca, para os seus clientes em Washington, DC, incentivando assim a utilização destes veículos durante os meses mais frios.


Em última análise, quando as condições climatéricas são muito severas, as empresas podem verem-se forçadas a retirar as suas frotas da rua e consequentemente perder lucros preciosos.



Apesar dos desafios, o futuro da micromobilidade parece brilhante. Como em qualquer sector emergente, as empresas de micromobilidade que oferecem um serviço relativamente novo, têm algumas estradas sinuosas pela frente, tendo de enfrentar inúmeros desafios nos 5 continentes.


Embora algumas empresas possam cair ao longo do caminho, as empresas que sobreviverem provavelmente prosperarão neste mercado de biliões de euros, pois fornecem aos cidadãos urbanos uma solução viável para colmatar os seus problemas de transporte, oferecendo uma alternativa mais ecológica e económica.


Obviamente, é um negócio que depende da geografia das cidades. Dependendo também da capacidade dos ambientes urbanos acomodarem estes meios de transporte com sucesso. Mas com um número crescente de investidores, podemos esperar ver cada vez mais bicicletas e trotinetes nas ruas das cidades de todo o mundo.



GOSTOU? então coloque um "gosto" e partilhe para os seus amigos


Tem uma história para partilhar? email EngenhoeArte@yahoo.com

323 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page