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  • Foto do escritorJoão Correia Gomes

COVID-19: O FUTURO SERÁ DIFERENTE DAQUELE QUE IMAGINAMOS?

Atualizado: 12 de mai. de 2020



É possível adivinhar e acertar no futuro? É muito pouco provável. Acertar? Talvez aconteça por sorte, numa probabilidade de 1 para 1 milhão. Pois tudo está em aberto. No futuro, não faltarão líderes a afirmar que, depois dos eventos, teriam previsto tudo tal como aconteceu!


O futuro comum é como uma longa equação matemática, uma enorme matriz, com milhares de milhões de funções interdependentes. São os seres humanos interconectados ou os eventos naturais. Os primeiros comportam-se de acordo com a cultura, interação, emoções, mesquinhez ou egoísmo, mas também o exemplo e a solidariedade. Geram-se imensas ações-reações. Os eventos naturais são também imensos como secas, chuvas, degelo dos polos, e afetam as decisões-ações.



O COVID-19 está a espicaçar o sistema social. Mais do que a saúde, irá refletir-se no comportamento geral da sociedade, como produz e se relaciona. Deverá influir o futuro da estrutura económica e social. As consequências dependerão mais da duração da pandemia e exigência de confinamento.

Como a duração é uma incógnita com incerteza, qualquer previsão está, à partida, errada. Neste momento, ex-ante do futuro, não é fiável prever se a economia evoluirá em V ou em U! É menos eficaz usar o conhecimento do passado para validar o futuro! E, se tiver de evoluir em W face a sequências de surtos?

A evolução humana não é, nem nunca foi, uma função linear com poucas variáveis, fácil de estimar. A progressão da sociedade foi sempre uma linha em ziguezague, com reviravoltas, ou desvios bruscos e violentos. Num mundo mais dinâmico e ligado os processos serão mais instáveis. Se a crise for curta no tempo e propagação geográfica então teremos sorte. A economia sofrerá “apenas” uma recessão. Mas, a desconhecer o vírus e o tempo para a imunidade geral (o tempo para a vacinação geral de muitos milhões) tal milagre parece improvável!


A decisão, em política ou economia, é ainda bastante moldada pela física newtoniana: mecânica e cartesiana. Nada contra! Este modelo determinístico até funciona, mas sobretudo em sistemas fechados e limitados, como é uma máquina ou a produção industrial e venda de bens num mercado controlado, fechado, como um monopólio. Porém, perde eficácia no âmbito muito mais amplo do sistema aberto de humanos interligados no planeta com recursos limitados.

Para simular a atual realidade politica e económica é preciso explorar outros paradigmas, muito além da física do século XVIII.

Pela Termodinâmica percebe-se que a realidade é um processo muito dinâmico, que se apresenta sob diversos estados, medidos pela entropia cuja progressão (taxa de geração) interessa minimizar. Os futuros modelos económicos terão de limitar o consumo sobretudo de matéria, escassa no sistema fechado que é a Terra. Mas estão livres para o consumo do conhecimento e da energia (renovável).



O maior contributo deve ser da física quântica e teoria de relatividade. A expressão E=m.c² revela que a matéria de que somos é afinal um possível estado de energia. Pelo princípio de incerteza de Heisenberg intuímos que não é possível conhecer em simultâneo a posição e o momento (velocidade) da partícula de energia.

Assim, traduzindo para a política e economia no amplo sistema da sociedade atual, poderia colar-se o termo “decisão individual” ao da posição da partícula assim como o termo de processo (económico?) ao momento linear. No mundo complexo em que vivemos, deverá ser mais ténue a relação entre a decisão individual e o resultado final. O processo depende de muitas outras variáveis. As decisões-ações dos vários indivíduos num sistema amplo podem colidir, anular-se porque se contradizem. O resultado final não deverá ser o esperado.



Então a abordagem moderna deve enfocar mais no processo do que na decisão. Esta, se efetuada hoje, não será a mais acertada. Podem esboçar-se muitos cenários, mas, no final, a realidade será diferente. E qual o cenário adotar?

A abordagem clássica na avaliação do risco baseia-se nos dados conhecidos do passado. Mas já não é tão eficaz. Deve complementar-se com os riscos específicos cuja avaliação passa pela identificação dos eventuais perigos e das medidas preventivas para os mitigar. Os perigos podem ou não acontecer. Tal dependerá mais das ações humanas e naturais.


Nenhum de nós, isolado, tem o poder de influenciar ou provocar algum dos perigos que pode reverter uma tendência. Mas no conjunto podemos influenciar o decurso da tendência (processo) para o sentido positivo pretendido. Assim, o COVID-19 transforma-se hoje num verdadeiro teste para a humanidade. Verifica a sua capacidade de cooperação, coordenação, partilha, solidariedade e equidade. É o processo que precisa contrariar o clássico que parece ser mantido, baseado no egoísmo individual ou da tribo, unilateralismo, engano.


No sistema aberto em que vivemos hoje o modelo clássico de decisão só irá piorar para todos que vivemos em comunidade e na natureza de que dependemos.

Lisboa, 13 de abril de 2020


João Correia Gomes


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