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  • Foto do escritorJoão Correia Gomes

COVID-19: UMA TRAGÉDIA GLOBAL?

Atualizado: 31 de mar. de 2020

Não é possível adivinhar o futuro porque a avaliação é ex-ante. E a inesperada ocorrência do Covid-19 é um bom exemplo. Esta confirma a teoria do caos em que o bater de asa de uma borboleta pode desencadear uma tempestade em outro ponto do planeta.


O mundo atual é muito mais complexo e dinâmico do que no passado, sujeito a mais variáveis interdependentes. Por isso, é menos fiável a projeção do futuro. Certamente, será errada. Mas não faltam sábios com a verdade, fariam desta maneira, não daquela, mas só se expressam após os eventos decorridos (avaliação ex-post). Assim é fácil. Por exemplo, na avaliação dos mercados é corrente (e bem) aplicar modelos probabilísticos. Analisa-se o risco, mas apenas quanto ao que se pode conhecer com dados. Justifica decisões e erros passados, mas não é suficiente para prevenir o futuro, incerto.


Depois, claro, surgem os cisnes negros. Estes baralham os modelos instituídos. Iludem análises e previsões. Está a acontecer com o Covid-19, como aconteceu na crise de 2008, quando pré-existia excessiva confiança em “infalíveis” modelos de risco.

No passado, as sociedades e economias eram mais fechadas, podiam ser controladas pelos governos, que ajustavam os sistemas a modelos keynesianos ou neoliberais. Com a globalização e a interação por Internet é cada vez mais difícil controlar os fluxos entre indivíduos e nações.

Hoje, milhares de milhões de pessoas e empresas influenciam-se mutuamente. Esta interação cria fenómenos inesperados globais. O ciclo de feedback pode reforçar-se em espirais virtuosas, ou também o seu contrário, prejudicando num ritmo exponencial. Os sistemas socioeconómicos ainda se configuram em modelos criados no século XX. A discrepância tende a criar vieses ineficientes, cuja iniquidade consequente leva à rotura, são tantos os exemplos do passado.


Grandes conflitos, como as guerras mundiais, aceleraram mudanças gerais. Consolidaram revoluções industriais. Iniciaram novos conceitos tecnológicos.


O Covid-19 tem um efeito colateral que pode afetar a estrutura socioeconómica. A doença e sua propagação afeta mais certos grupos sociais, como idosos ou com morbilidade. A prevenção implica o isolamento universal da população. Isto cria assim um DILEMA para as sociedades. A decisão é entre o isolamento geral que mata o vírus e a economia ou, o contrário, mas que mataria muita gente. E tal é imoral e nada ético.


A pandemia afetou primeiro a China e os países asiáticos. Mas estes parecem conseguir mitigar o problema, embora com custos. Afetará muito a Europa, cuja elevada consciência ética e moral leva a dar prioridade em salvar as vidas, mas com grave penalização da economia. Não pode excluir-se a evolução da doença nos Estados Unidos que poderá conduzir à rotura da sua economia, e tal afetará todo o mundo como em crises anteriores.

Com os dados disponíveis e a tendência observada, parece antever-se uma catástrofe global, se calhar com cariz mais apocalítico, sobre a maioria dos países. Salienta-se os países em desenvolvimento. Em África, India, ou América do Sul, as populações não têm condições sanitárias do mundo ocidental. Na opção de se isolarem e pausarem as atividades económicas, poderão ter de escolher entre morrer pelo Covid-19 ou por fome. A esperança é que possam beneficiar da juventude da sua população com baixa proporção de gente idosa.


Não é possível isolar um país de outros. Não existe imunidade limitada em locais e as fronteiras não filtram. A imunidade global obriga todos os países do mundo. Espera-se a vacina salvadora, mas esta não deverá surgir antes de um ano. Depois, será necessário produzir e inocular milhares de milhões de unidades, o que não é possível em meses. Esta longa espera deverá então conduzir à pausa da economia mundial por muitos meses. Ou seja, a forte recessão global.

Ora, nestas condições, sem o milagre urgente não espetável, configura-se um mau cenário global. O eventual alastramento da doença com a morte de muitos, terá graves consequências morais e económicas em todos os países, ricos e pobres. As economias dependem de fluxos para prosperar, como o comércio. Mas o isolamento levará quebra dos sistemas económicos baseado nas leis do mercado que interagem e se dependem mutuamente. Esta é a vantagem que o vírus tem sobre os nossos sistemas.



A rotura económico-financeira deverá conduzir à massificação do desemprego e falências. Estas poderão conduzir a revoltas sociais ou a depressões suicidas. Um ambiente de caos social poderá dar oportunidade para políticos populistas e oportunistas se reforçarem. Aconteceu há 90 anos com o crash da bolsa de Nova Iorque. Depois, a consequente 2ª Guerra Mundial abriu caminho a uma Nova Ordem Mundial com uma prosperidade singular para a humanidade.


Será o Covid-19 um evento semelhante?

Lisboa, 30 de março de 2020

João Correia Gomes


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