top of page

A NOVA LINGUAGEM ENTRE ENGENHEIROS, ARQUITECTOS E O TERRITÓRIO

  • Foto do escritor: Engenho e Arte
    Engenho e Arte
  • 14 de jul.
  • 4 min de leitura
ree
Design, Inovação e o Território: Uma Breve Reflexão Histórica

A ligação entre design, engenharia e território é mais profunda do que parece à primeira vista. Durante grande parte do século XX, a engenharia civil e a arquitectura assumiram o protagonismo na transformação do espaço físico - respondendo a necessidades de infraestrutura, habitação e funcionalidade urbana. O design, por seu lado, foi muitas vezes confinado à esfera estética ou industrial, sem um papel sistemático nos processos de decisão territorial. Contudo, este cenário começou a mudar com a emergência de novos paradigmas: sustentabilidade, participação cidadã, digitalização e inovação social.

Nos anos 2000, o design expandiu-se para áreas como os serviços públicos, a governação local e a regeneração urbana. O conceito de design estratégico - que propõe o design como ferramenta de análise, planeamento e mediação - ganhou força, especialmente em contextos onde os problemas não são apenas técnicos mas culturais, sociais e políticos. A desertificação do interior, o envelhecimento populacional ou os desafios da habitação não podem ser resolvidos com soluções unidimensionais. Requerem pensamento sistémico, experimentação e colaboração entre disciplinas.

Neste novo enquadramento, o papel do design deixa de ser periférico e assume uma nova centralidade. O design torna-se o campo onde se testam ideias, se simulam futuros, se integram saberes técnicos e se aproximam diferentes actores. É nesta lógica que se torna possível pensar o design como um novo idioma comum entre engenheiros, arquitectos, decisores políticos, indústria e cidadãos.



Portugal e a Urgência de Novos Ecossistemas de Inovação

O caso português é particularmente relevante. Se, por um lado, temos uma longa tradição em engenharia e arquitectura, por outro enfrentamos constrangimentos históricos ao nível da industrialização, da inovação aplicada e da valorização do território. Muitos municípios vivem em contextos de baixa densidade populacional, com dificuldades em atrair investimento ou fixar talento jovem. Diversos relatórios e estudos de política pública têm vindo a destacar a necessidade de criar ecossistemas de inovação territorial, onde o conhecimento e a criatividade possam gerar impacto económico e social. Não basta criar startups ou incubadoras isoladas. É necessário estruturar espaços de experimentação integrados no tecido local, onde o design se cruza com a engenharia, a formação com a prática, e a tecnologia com a cultura.



O Design como Mediação entre Conhecimento e Território

É neste cenário que o design avançado assume um papel determinante. Mais do que produzir objectos ou serviços, trata-se de antecipar e identificar problemas futuros, criando condições para que diferentes disciplinas colaborem em torno de problemas reais. Isto implica metodologias participativas, pensamento visual e competências de comunicação intersectorial.

Por exemplo, pensar um novo modelo de habitação adaptado às alterações climáticas exige

integrar saberes da arquitectura, do design, da engenharia de materiais e da sociologia urbana. Da mesma forma, desenvolver mobiliário urbano inteligente implica considerar

ergonomia, acessibilidade, simbologia cultural e integração com o espaço público. O design,

neste contexto, não substitui a técnica mas potencializa-a. Não ignora o território, mas

revela-o.


ree

O Caso do Laboratório de Design Avançado

É neste contexto que nasceu o Laboratório de Design Avançado. Sediado na Fábrica de

Santo Thyrso, é um espaço híbrido - não uma escola, nem um centro de investigação

tradicional - mas um ecossistema de colaboração transdisciplinar. Aqui cruzam-se design,

engenharia e tecnologia com impacto directo no mundo físico, em projectos com aplicação

imediata, envolvendo parceiros da indústria, municípios e instituições de ensino.

O Laboratório desenvolve projectos que vão da prototipagem de soluções de mobilidade

urbana à valorização do património material e imaterial, passando por programas de

formação avançada, workshops e experimentação aplicada. Para além do design industrial e

de mobilidade, as áreas de actuação incluem a habitação modular, os sistemas urbanos

sustentáveis e o mobiliário público inteligente.

Neste contexto, a arquitectura e a engenharia civil são chamadas a integrar processos de

inovação, através da exploração de novos modelos habitacionais adaptados ao clima e ao

território, da experimentação de novos sistemas de mobiliário urbano e soluções de

mobilidade sustentável, bem como da valorização do património material e imaterial, através

da inovação respeitadora da identidade local.

Levar inovação aos territórios periféricos e de baixa densidade é uma prioridade. São

territórios que enfrentam desafios estruturais como a desertificação, a degradação do

edificado e a falta de atractividade para jovens profissionais. O design, entendido como

ferramenta de mediação e transformação, pode ajudar a repensar estes lugares. A habitação

modular, os equipamentos urbanos simbólicos, as intervenções públicas que dialogam com

a paisagem e a cultura são respostas que se tornam viáveis quando engenheiros,

arquitectos e designers trabalham em conjunto.

Outro dos grandes eixos do Laboratório de Design Avançado é a formação. Não se trata

apenas de oferecer workshops ou cursos, mas de fomentar uma verdadeira cultura de

aprendizagem contínua. Uma formação que acompanha o ritmo da inovação, que responde

às necessidades do mercado, e que promove a aquisição de competências técnicas e

criativas em simultâneo.

Acreditamos que a aprendizagem deve estar integrada nos processos de projecto e

produção. No Laboratório, a formação acontece no contacto com a prática, no erro, na

interacção, na discussão multidisciplinar. E deve estar acessível tanto a jovens profissionais,

como a quadros experientes em fase de reconversão.

Não pretendemos competir com as universidades ou centros de formação existentes, mas

antes criar um espaço de aceleração e aplicação de conhecimento, onde a formação é

contextualizada e direccionada para problemas concretos.



Conclusão

Mais do que um apelo à inovação, o Laboratório de Design Avançado representa um

convite à relevância. À capacidade de colocar as competências de design, engenharia e

arquitectura ao serviço dos grandes desafios sociais e territoriais.

Não se trata de substituir o que existe, mas de o acelerar. Não se trata de repetir fórmulas,

mas de experimentar com sentido. Portugal precisa de I+D - mas com produto, com

propósito e com pessoas.

E é isso que o Laboratório de Design Avançado quer ajudar a construir. Porque o futuro

não se prevê. Desenha-se.



GOSTOU? então coloque um "gosto" e partilhe para os seus amigos

Tem uma história para partilhar? email EngenhoeArte@yahoo.com






Comentários


bottom of page