A água, a energia e os alimentos são essenciais para o bem-estar humano, para a redução da pobreza mundial e para apoiar o desenvolvimento sustentável. Projeções globais indicam que os consumos de água doce, energia e alimentos aumentará significativamente nas próximas décadas, sob a pressão do crescimento e mobilidade da população, do desenvolvimento económico, do comércio internacional, da urbanização, da diversificação de alimentos, das mudanças culturais e tecnológicas, em particular, induzidas pelas mudanças climáticas.
Nesse contexto, o conceito do nexus Água-Energia-Alimentos surge como uma ferramenta útil para descrever e abordar a natureza complexa e inter-relacionada dos nossos recursos globais, dos quais dependemos para atingir diferentes objetivos económicos, ambientais e de sustentabilidade. Em termos práticos, apresenta-se uma abordagem conceptual para entender melhor e analisar sistematicamente as interações entre o ambiente natural e as atividades humanas, e trabalhar no sentido de uma melhor gestão dos recursos naturais, em todos os setores e escalas. Isso pode ajudar a identificar e gerir contrapartidas e criar sinergias, permitindo uma integração e planeamento mais económicos, tomadas de decisão mais adequadas, melhores soluções a implementar, monitorização constante e inteligente, conducentes à avaliação/interpretação e conceção final.
Identificação de consumos
A agricultura é responsável por 70% do total de água doce capturada mundialmente, tornando-a o maior utilizador de água. A água é usada ao longo de toda a cadeia de abastecimento agroalimentar, e é usada para produzir ou transportar energia em diferentes formas (FAO 2011). Simultaneamente, a produção de alimentos consome cerca de 30% do total de energia consumida globalmente. Contudo, a energia é necessária para produzir, transportar e distribuir alimentos, bem como para extrair, bombear, transportar e tratar a água. As cidades, a indústria e outros utilizadores reivindicam cada vez mais recursos hídricos, energéticos e alimentícios, e, por outro lado, enfrentam problemas de degradação ambiental, com escassez significativa de recursos.
Prevê-se que esta situação seja agravada num futuro próximo, uma vez que será necessário produzir mais 60 % de alimentos para sustentar a população mundial em 2050. Prevê-se que o consumo global de energia cresça em 50% até 2035 (IEA 2010) e que a água para irrigação aumente em 10% até 2050 (FAO 2011).
À medida que o consumo cresce, aumenta a competição pelos recursos água, energia, agricultura, pesca, pecuária, florestas, mineralização, transportes e outros setores com impactos imprevisíveis para os meios de subsistência e o meio ambiente. Os projetos de infraestrutura de água em larga escala, podem ter impactos sinérgicos, produzindo energia hidroelétrica e fornecendo armazenamento de água para a irrigação e o consumo humano. No entanto, isso pode acontecer à custa da existência de sistemas agro-ecológicos a jusante, trazendo implicações sociais, como a necessidade de recolocação das populações. Da mesma forma, a plantação de culturas bioenergéticas irrigadas pode ajudar a melhorar o fornecimento de energia e gerar oportunidades de emprego, mas também pode resultar numa maior concorrência pela terra e pelos recursos hídricos com consequências na segurança alimentar local.
Natureza complexa inter-relacionada dos recursos globais
Acima de tudo deve tratar-se de equilibrar diferentes objetivos dos utilizadores de recursos e interesses mantendo a integridade dos ecossistemas. As interações deste nexus são complexas e dinâmicas, e as questões setoriais não podem ser resolvidas isoladamente. É importante que existam dentro de um contexto de processos transformacionais - ou orientadores de mudança - que precisam ser levados em consideração. É relevante notar que existem diferentes conceções de nexus que variam de âmbito, objetivos e motivações. Existem vários conceitos, estruturas e metodologias que permitem analisar as interações entre água, energia e alimentos, solo e ecossistemas. Como exemplo mostra-se a produção de energia por uma fonte limpa e ambientalmente aceite, o parafuso de Arquimedes, e através de uma fonte poluente, um gerador a diesel, para apoio às culturas.
No sistema global do Alqueva, com uma área de exploração de 120 000 ha de regadio, o incremento da área regada ao longo da última década, permite a alteração do modelo da agricultura de sequeiro para novas culturas, abrindo portas às agroindústrias. Esses sistemas estão equipados com técnicas de telegestão, oferecendo a garantia de água e a possibilidade de obter informação em tempo real para se adaptar os períodos de rega de acordo com as suas necessidades/disponibilidades.
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Helena M Ramos
Professora no IST Técnico Lisboa
Departamento de Engenharia Civil, Arquitectura e Georrecursos (DECivil), CERIS, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa;
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