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Foto do escritorEdgar Carrolo

SERÁ O SKYPE A PRÓXIMA NOKIA DOS NOSSOS DIAS? (continuação)

Atualizado: 14 de out. de 2020


No primeiro capítulo deste artigo, tentei fazer um paralelismo e projeção do que se passa atualmente com uma ferramenta de comunicação que acompanhou a minha infância, adolescência, e mesmo até um passado profissional recente. Fi-lo, trazendo a memória de uma empresa que foi líder incontestável no seu segmento durante boa parte do século XX, e que acabou por perder protagonismo, e de um certo modo caindo no esquecimento. Pode ler o artigo AQUI.


De facto, o normal é as empresas terem altos e baixos durante a sua atividade, ainda que com certas empresas exista uma sensação de que são inabaláveis, face a sua dominância, e até preponderância na vida quotidiana. O Skype é (ou era) um destes casos, pois permitiu a muitas pessoas comunicarem entre si, encurtando distâncias até a ordens de grandeza de um monitor ou telemóvel. O facto de o Skype estar a perder fulgor a olhos vistos, no que diz respeito às comunicações via internet também poderá ter a mesma origem que o declínio de uma outra empresa que é bem conhecida da minha geração, e que compõe o título deste artigo.


A Nokia representou o primeiro contacto das comunicações móveis de uma parte significativa da minha geração.


O meu primeiro telemóvel foi um Nokia, assim como da esmagadora maioria dos meus amigos da escola. A Nokia foi possivelmente a primeira empresa de telecomunicações móveis a conseguir juntar três ingredientes para conseguir chegar às massas: baixo preço, design atraente e simplicidade de uso. Esta receita foi ganhadora durante cerca de 10 anos, até a Apple ter lançado o IPhone, que desencadeou uma disrupção do segmento.



Nokia 1100 – o telemóvel mais vendido de sempre pela Nokia


A Nokia é atualmente um case study pela forma como a cultura empresarial pode minar uma organização. Vários relatos de ex-gestores de topo e intermédios revelam a cultura de medo que era promovida para com as chefias intermédias, o que levava a uma resistência à mudança e encobrimento em relação à situação da empresa. E há uma verdade inegável na gestão: um bom gestor só está em condições de tomar boas decisões, se estiver na posse de dados fidedignos.


Hoje em dia a Nokia é uma marca com pouco impacto no segmento dos dispositivos móveis.


No entanto, estes relatos internos por si só não explicam todo o problema; se é verdade que haveria um encobrimento do que realmente se passava, resta a pergunta: o que se passaria afinal nos corredores do gigante finlandês? A resposta a isso não será difícil perceber, pois os números são claros: em 2007 a Nokia detinha uns assinaláveis 50% de quota de mercado, e passados 6 anos essa quota passou a ser de 5%, exatamente fruto da penetração do IPhone em 2007.



IPhone – um dos produtos tecnológicos mais marcantes na sociedade no século XXI


Estes números até podem ter sido manipulados durante algum tempo, mas a clara falta de competitividade dos telemóveis ficou evidente mais tarde ou mais cedo. Há quem diga que a Nokia diversificou em demasia a oferta, na tentativa de atrair diversos segmentos de mercado, e em muitos casos essa estratégia correu mal. Mas eu acredito mais na teoria de que havia um problema de base no firmware Symbian da Nokia, que não permitiu uma rápida mudança de paradigma. A queda livre da Nokia coincide não só com o aparecimento do IPhone, mas com tudo o que este dispositivo representou, em termos da disrupção no estilo de vida vigente. O telefone deixou definitivamente de servir exclusivamente para fazer chamadas, e acabou por substituir um sem fim de equipamentos de forma eficaz na maioria dos casos, cujas funcionalidades, cabem na palma da mão. Os casos mais óbvios incluem a navegação na internet e o uso das câmaras dos telemóveis, que se massificou desde então.


A Microsoft percebeu que juntando hardware de inegável qualidade da Nokia ao seu conhecimento de software poderia oferecer um produto competitivo para fazer face aos rivais, daí ter avançado para aquisição da empresa finlandesa em 2013. Tal revelou-se um insucesso, sobretudo devido à falta de desenvolvimento de aplicações para a plataforma Windows, uma vez que o escasso número de utilizadores nunca o justificou. É de crer, que se tal aposta tivesse sido feita anos antes, com a Nokia a reconhecer as fraquezas do seu produto, talvez eu estaria aqui a escrever sobre a longevidade do sucesso da Nokia e não do seu fracasso…


O que representa atualmente o Skype?

Olhando novamente para o Skype, percebe-se que há um claro desinvestimento na ferramenta, o que fica patente pela criação do concorrente Teams, também ele propriedade da Microsoft, e com um potencial muitíssimo maior e mais adaptado às exigências a nível empresarial. O Skype está agora refém de um número de pessoas que por razões históricas já o usavam, estão acostumadas a usá-lo e dão preferência à realização de videochamadas no computador para uso pessoal e/ou profissional.


Isto deve-se ao facto das plataformas de comunicação emergentes (como o Whatsapp, Line ou o Telegram), assim como as redes sociais terem penetrado no mercado que anteriormente pertencia ao Skype, aproveitando uma brecha que o Skype nunca conseguiu preencher – e que agora se percebe que era um buraco colossal dado a dimensão do mercado – nas comunicações móveis. Por experiência própria, posso dizer que a utilização do Skype no telemóvel até 2017 sempre foi muito sofrível, para ser simpático.


Por outro lado, a Microsoft percebendo esse efeito, tentou virar o Skype mais para a vertente Bussiness, introduzindo-o no Office 365, mas a própria inércia das organizações levou a que a mudança não ocorresse suficientemente rápido, apesar da qualidade do produto na minha opinião ser bastante boa. Nesse espaço temporal outras ferramentas muito mais ágeis, como o Zoom e o Google Meet conseguiram penetrar.



Tenho razões para acreditar de que o Skype mais tarde ou mais cedo possa ser descontinuado, concentrando-se totalmente na consolidação do Teams. Vejo isto como algo cíclico na tecnologia, tal e qual como os primórdios das mensagens instantâneas nasceram, tiveram o seu auge e hoje estão obsoletos. Se na Natureza, os organismos mais bem adaptados ao meio ambiente conseguem perpetuar-se por mais tempo nesse ambiente, reproduzindo-se em maior número, sendo de certo modo selecionados por esse ambiente (até que venha um meteorito…), no caso da tecnologia, os produtos que se conseguem inovar e reinventar são aqueles que naturalmente têm a maior preferência do consumidor.


O Skype poderá eventualmente ter os dias contados por ter deixado de ser inovador após vários anos dourados, mas o seu contributo para as comunicações por vídeo é um fóssil que ficará eternizado nos compêndios da tecnologia.



Edgar Carrolo

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