A bordo do lançador europeu encontram-se 53 satélites para serem colocados em órbita, colocando para trás os fantasmas do lançamento nº15, que teve uma anomalia crítica e consequente perda de missão pouco mais de 2 minutos após a descolagem.
No passado mês de junho, cerca de um ano depois do último lançamento do VEGA, o centro espacial europeu (CSG) sediado em Kourou, na Guiana Francesa, estava a postos para receber o mais pequeno lançador da família de lançadores europeia. O VEGA é especialmente talhado para a colocação de satélites até 1500 kg em órbita baixa (até 700 km).
O último voo do VEGA tinha acontecido a 11 de Julho de 2019, e acabou por ter contornos desastrosos! Cerca de dois minutos após o lançamento ter tido início, foi detetada uma anomalia crítica durante a ignição do segundo motor de combustível sólido. Resultado? Perda de missão e o maior valor de sempre desembolsado por uma seguradora – 369 milhões de Euros – pela perda do satélite Falcon Eye 1, pertencente às forças armadas dos Emirados Árabes Unidos.
O lançamento VV16 estava previsto para o dia 18 de junho – a data mais cedo possível desde a reabertura do CSG após o pico da pandemia – mas ventos de alta altitude foram adiando o lançamento. Este facto por si só não tem grande relevância, mas a data de lançamento acabou por tornar-se crítica, uma vez que a campanha de lançamento do Ariane 5 já havia começado. O Ariane 5 é o maior lançador europeu, cuja gestão está a cargo da Arianespace, empresa encarregue dos lançamentos (em cooperação com o CNES, a agência espacial francesa). Com as condições meteorológicas a não melhorarem, a verdade é que o VEGA teve de ser desmontado da plataforma de lançamento no dia 28 de junho, para dar lugar ao Ariane, cujo calendário não podia esperar mais.
Esta missão do VEGA seria histórica: iria ser estreado o Small Spacecraft Mission Service (SSMS), que consiste de uma forma simples num dispensador a bordo do lançador com capacidade para colocar em órbita dezenas de satélites (desde 1 a 500 kg ), abrindo espaço a um mercado emergente. No passado, o VEGA transportava tipicamente um satélite de média a grande dimensão (denominado payload) e o restante volume útil (quando existente) era utilizado sobretudo para colocar em órbita satélites de caráter experimental, com um custo insignificante comparado com a missão principal (missão piggyback). Os piggyback tinham por isso de se singir à orbita definida para o payload principal (nomeadamente no que diz respeito a altitude, inclinação hora de inserção em órbita), o que poderia limitar muito a sua operação. Este espaço era aproveitado sobretudo por universidades, cujos orçamentos são limitados e não têm capacidade de pagar o lançamento do seu payload. Com este novo dispensador, o VEGA possui agora 7 configurações possíveis que pode montar os payload, dependo da sua geometria, volume e massa, partilhando uma ou mais órbitas de inserção, sendo por isso denominado por rideshare. Desta forma consegue torna-se mais atrativo a um mercado de empresas que constroem pequenos e microssatélites, e que tinham na Europa muito poucas oportunidades de colocar os seus veículos espaciais em órbita.
Também não foi à segunda tentativa que o VEGA foi lançado…
Este lançamento iria ser histórico, pois o SMSS ia ser testado pela primeira vez. Este dispensador financiado pela Agência Espacial Europeia (ESA), desenvolvido pela AVIO – gigante espacial italiano que é também o maior parceiro industrial dos lançadores – e contruído pela SAB na República Checa, ia colocar 53 satélites de 21 clientes diferentes em órbita. O VEGA não foi lançado em junho por colisão de calendário com o seu parente Ariane 5 e a data de 17 de Agosto foi então proposta, onde os modelos indicavam que as condições climatéricas estariam mais favoráveis. Mas a verdade é que falharam… Os ventos fortes a alta altitude persistiam e mais uma vez a campanha foi adiada.
1 a 4 de Setembro! Nesta janela temporal os modelos asseguravam que o lançamento tinha 90% de probabilidade ser concretizado! Mas será que os modelos previram que existiria um furacão ao largo da ilha da Coreia por essa altura? Talvez, mas uma vez que o CSG por razões de segurança encontra-se a pouco mais de 7 km da costa atlântica e os lançamentos são efetuados na direção do mesmo, é possível que não tenham ligado qualquer luz vermelha... Pois bem, a verdade é que o lançamento não pode ser efetuado, segundo a Arianespace, uma estação de telemetria na Coreia do Sul (que recebe os dados do lançador durante o voo em tempo real) teve de ser fechada para a salvaguardar da intempérie!
Mas a história por vezes escreve-se por linhas tortas, e o lançamento ainda dentro da terceira janela de oportunidade encontrada desde julho concretizou-se na madrugada do dia 3 de setembro (hora portuguesa) e colocou com sucesso o payload em órbita, naquilo que pode ser o momento de viragem para a indústria espacial Europeia.
Em agosto a Arianespace tinha afirmado que planeava manter a meta de realização de 3 lançamentos do VEGA até ao fim do ano. Admitindo que o tempo é curto para que isso aconteça, vou ficar, no entanto, atento ao próximo lançamento do VEGA (cuja data ainda não é conhecida), que tem uma pequena contribuição portuguesa. Espero no próximo artigo poder trazer o relato de um engenheiro português que participou afincadamente vários meses para que este lançamento VV17 esteja à beira de realizar-se.
Autor: Edgar Carrolo
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