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  • Foto do escritorJoão Correia Gomes

MAS, ATÉ O PLANETA TERRA DIFICULTA A ECONOMIA QUE TEM DE CRESCER?!

Atualizado: 21 de nov. de 2021

Anyone who believes in indefinite growth in anything physical, on a physically finite planet, is either mad or an economist[I]

(Kenneth Boulding citado no US Congress, 1973, 248)


Nos últimos 200 anos, o modelo económico instituído no ocidente até funcionou bem!


A população mundial expandiu imenso. A morte por fome ou doença contagiosa tornou-se mais residual. A vida passou a ser muito mais fácil com a tecnologia que é um facilitador. Nos primeiros 150 anos, consolidou o modelo económico muito dependente da exploração do planeta (extração de matéria e boa parte dos humanos com o seu esforço muscular), mas apenas beneficiava uma parte menor da humanidade, a dos países industrializados. Após a segunda guerra mundial e sobretudo nos últimos 20 anos a expansão extravasou a capacidade própria do planeta, quando ainda mais países entraram no clube da produção intensiva de bens usando as escassas reservas naturais do planeta.



E hoje em dia o planeta já está a expor a sua insatisfação. Não são apenas as alterações climáticas, as secas e inundações, a morte dos oceanos e do ecossistema terreno. A sobrepopulação humana está em ritmo frenético de consumo e desperdício, numa cultura da satisfação imediata.

Pensando no básico, alimentação, esgotam-se os solos aráveis e lençóis freáticos de água potável. Preocupante é o que acontece na China (Mancl, 2019) com acelerada degradação dos solos. O resto do mundo não conseguirá produzir grãos alimentares suficientes para exportar para essa enorme população, o que poderá gerar a fome em outras partes do mundo. Em outras economias agrícolas, como os Estados Unidos, acontece algo similar.


Para agravar a situação, neste modelo, o critério de avaliação económica é frágil e enviesado. As economias avaliam o seu desempenho pelo Produto Interno Bruto (PIB), mas sem olhar às consequências. Este apenas contabiliza a aplicação de fatores que são mensuráveis como a produção de bens, mas omite os efeitos que realmente se fixam no planeta para sempre como a matéria prima extraída que nunca será reposta; a contaminação do solo, da água e atmosfera essenciais à vida; os custos de saúde e da morte de populações devido a poluição; ou, os custos sociais de quem perde a dignidade e esperança em economias dependentes da extração. Estes custos são os reais, permanentes e muito elevado, mas não contabilizados. São ónus deixados para terceiros no terreno ou para o futuro (descendentes).

A ortodoxia económica ainda não adotou um melhor critério do que o crescimento contínuo do PIB. Existe especial admiração pela China que, nas últimas duas décadas, experienciou um crescimento incrível (Smil, 2019). O modelo instituído passa por consumir cada vez mais bens materiais o que favorece o aumento do PIB instituído. O ideal seria ter um ritmo até mesmo exponencial. E, quanto às consequências, a justificação segue a experiência passada em que a tecnologia resolveu os problemas. No futuro dominado pela Inteligência Artificial e Computação Quântica a solução poderá estar na “singularidade” (Kurzweil, 2005). Como alternativa, escondem-se os problemas acusando como “fake-news”.


Todavia, não pode omitir-se que vivemos todos num planeta materialmente restrito e limitado, sem Marte acessível e fisicamente viável como plano B.


É IMPOSSÍVEL o contínuo crescimento material com base na crescente extração de recursos inorgânicos e orgânicos da Terra, com a consequente degradação das reservas e serviços da biosfera, que são finitos (Smil, 2019). Nem mesmo a desmaterialização - fazer mais com menos – poderá aliviar tal restrição. Muito em breve, a maioria das economias irá presenciar a decadência de crescimento, não devida aos modernos processos de produção, mas apenas pelas consequências na biosfera e no stock natural do planeta.

Para Bem do Planeta incluindo humanidade terá de encontrar-se um novo paradigma para a riqueza. Mas, este deverá estar fora da ortodoxia político-económica. O critério terá de abranger mais disciplinas, as que trazem conhecimento científico, tecnológico (como engenharia) e o comportamento humano. Obviamente, o modelo económico baseado no consumo e desenfreada extração de matéria não recuperável será a melhor via para o suicídio coletivo. Poderá mesmo iniciar conflitos e o caos para controlo de territórios essenciais ao fornecimento de recursos naturais como a água (China-India, 2021).


A avaliação económica até pode basear-se no PIB, mas teriam de se subtrair custos naturais subjacentes à produção, expressos na pégada ecológica, a matéria extraída mas irrecuperável, a perda da diversidade biológica, a perda de direitos de quem vive nas regiões exploradas. A contaminação e morte da Natureza custam muito à humanidade, não podem ser desprezadas para se tornarem benefício de humanos que agem como os predadores.

Com uma fórmula mais justa do PIB, a abordagem económica dos agentes será decerto diferente. O PIB de alguns países "campeões" baixará e poderá até ser negativo. A surpresa pode estar em países, como a China que se degrada muito a si própria, tal como a terceiros, cujo modelo económico é bastante extrativo e predatório da Natureza e Humanos (Su, 2019).


Um novo modelo produtivo precisa-se” é o título do meu último artigo que explora novos paradigmas de gestão, com especial enfase no setor imobiliário que conheço melhor e utilizo para enfocar estes temas de desenvolvimento.


Até porque o imobiliário é talvez a atividade que mais estressa os ambientes em que vivem os humanos e outros seres vivos.

Porque afetou as sociedades humanas e economias ao longo das várias Eras.

Porque se expressa em cidades, as quais mais alteram a superfície do planeta com as suas infraestruturas e construção em quilómetros cúbitos em matéria extraída ao planeta.

Porque tem dependido de produtos muito poluentes como o cimento ou aço.

Porque exige enormes números em capital de investimento inicial, mas a devolução é lenta, o que exaura as economias, sejam elas pobres ou ricas.

Porque esmaga os recursos escassos quando a ambição exagera no volume de construção e depois, sendo exagerada, tem de ser demolida.

Porque afeta as instituições e elites que se corrompem, burocratizam ou abusam do poder que o imobiliário facilita, usando processos como o licenciamento.

Porque afetará futuros agregados humanos, como as cidades, que terão de ser sustentáveis para assegurar a sobrevivência da vida no planeta, incluindo os seres humanos.


É necessário um novo paradigma produtivo. Mas como?


Requer-se uma reflexão sobre nos fundamentos da produção humana que tem criado valor. Os processos de produção correntes são sobretudo de base material. Transformam a matéria prima e a energia (fonte fóssil) extraídas ao planeta, sujeitam-nas ao esforço humano ,cada vez menos muscular pois apoiado em tecnologia e em processos mais intangíveis como a gestão.


Na era da industrialização os humanos tornaram-se recurso do processo produtivo a complementar o capital e a focar a produtividade. O seu valor liga-se ao tempo em que cada um vende o seu esforço, mas também como consome de forma a sustentar a máquina económica que é voraz em ciclo crescente e contínuo. O ensino formatava a população para trabalhar de modo mais regular, obediente e disciplinado, o foco do valor atribuído. No modelo industrial mais primitivo, o recurso humano nem se sequer era tido como fonte de inteligência e criatividade, cujos atributos eram circunscritos às pequenas elites que então dominam os processos industriais, políticos, burocráticos e financeiros.


Para mitigar qualquer risco de rebelião desta população “mecanizada” controlada no tempo (apática pela rotina e no esvaziamento pessoal), incentiva-se então a aquisição de habitação própria com apoio de empréstimos de longo prazo. Um proprietário endividado contém-se e não se revolta e, ainda mais, se for distraído com entretenimento aditivo (futebol, TV ou Facebook).

Numa versão mais pós-industrial, a produção física, mais rotineira, de bens e serviços está a ser empurrada para sistemas tecnológicos que dependem da inteligência artificial e robôs - a automação. Nestas nações mais avançadas e ricas, a criação de riqueza tende a focar-se mais nos fluxos de base intangível, sobretudo os de informação e serviços (logísticos, formativos, cuidados humanos) a intensificar. São as economias que tendem a dominar as outras de base mais materialista que tendem a estagnar.


As sociedades atuais de alto nível económico baseiam-se em atributos mais imateriais. Incentiva-se o esforço humano na valorização pelo mérito; foca-se no conhecimento técnico e na cultura (a qual incentiva a criatividade); crescem os serviços com empatia humana que as máquinas não conseguem reproduzir. O valor criado deve mais às capacidades únicas dos cérebros humanos que interagem em redes dinâmicas (presenciais e Internet) que simulam o funcionamento dos neurónios no cérebro, provocando efeitos explosivos a criar mais conhecimento e criatividade.

Não funciona em sociedades de elevado controlo estatal (burocracia, vigilancia, autocracia) cujo medo ou apatia esmorece os referidos atributos de valor. Prejudicam-se as economias em que os seus habitantes (de baixa literacia) tende a ser manipulada por algoritmos em redes sociais (Raposo, 2019) cujos objetivos serão mais ou menos obscuros. Podem mesmo levar ao caos político-social (e até guerras).


Terá de mudar o paradigma económico vigente há dois séculos. A humanidade terá de encontrar um modelo económico distinto do atual, primitivo e predador, portanto menos materialista que regenere o ecossistema. Talvez possa basear-se na teoria dos sistemas a imitar a própria Natureza, um sistema produtivo muito mais sofisticado que o criado pelo Homem que se autoequilibra usando apenas a radiação solar e recursos regeneráveis.

O uso do Bem Comum, como o ecossistema ou os recursos naturais irrecuperáveis, deverá ter um custo na contabilidade das economias. Assim, a produção de riqueza terá de contornar com soluções sustentáveis e de uso intensivo. Deverá privilegiar-se uma economia mais baseada em fluxos intangíveis entre humanos (informação, interação, confiança, uso partilhado) em vez da tradicional produção de bens em materiais irrecuperáveis para venda e muito consumo. A cultura social tem de mudar da posse e consumo desenfreado de bens materiais para uma cultura de uso partilhado de ambientes e dos objetos materiais com profusão mais restrita.

[i] Tradução: Quem acredite no crescimento indefinido baseado em qualquer coisa física, num planeta fisicamente finito, ou é louco ou então um economista.


Lisboa, 22 de outubro de 2021


João Correia Gomes (Ph.D., Mestre em construção, Engenheiro civil)


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