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  • Foto do escritorJoão Correia Gomes

CRIAR VALOR PARA UM MUNDO SUSTENTÁVEL, MAS QUE SOBREVIVE!

Atualizado: 10 de ago. de 2022


O mundo em que vivemos é um cadinho de conflitos, mas sempre foi. Sobe a temperatura geral à qual se acresce outros ingredientes negativos. Mas, alguns são tão explosivos, que poderão espoletar a extinção da humanidade. Não se trata apenas da guerra na Ucrânia com os seus mortos e destruição numa Europa que se julgava civilizada. Talvez mais grave do que o morticínio entre humanos (um ritual infeliz, mas ainda corrente) seja a degradação das condições básicas que sustentam a vida, incluindo a humana.

Ou seja, o planeta Terra e a sua Natureza Viva.

Na sequência de artigo anterior , inspirado em “Less is More – How degrowth will save the world” (Jason Hickel 2021), interessa refletir um pouco sobre o caminho da prosperidade (pelo menos para parte dos humanos). Esse processo de criação de valor (ótica humana) parece esgotar-se sobretudo quando está a assassinar a base que sustenta a vida. Manter esse tipo de processo pode cada vez mais significar suicídio coletivo. A nova fórmula económica terá de evoluir, pois terá de criar ainda mais valor (para todos), mas com menos (recursos materiais, energéticos e humanos, este no sentido de esforço e da dor que inflige nos processos tradicionais).

O segredo está no modelo já aplicado pela Natureza (artigo anterior).


O modelo económico vigente – capitalismo clássico – foi criado há cerca de 500 anos na economia de mercado então existente (mais mercantilista). Beneficiou das ideias e oportunidades que então emergiam, o que levou o ocidente a liderar o processo de criação de riqueza até ao presente, em combinação com movimentos políticos e sociais disruptivos, mas compatíveis.


Não foi por acaso que ocorreu no fim do feudalismo, mas também com a transferência do Bem Comum (natural), que era partilhado, para interesses privados, um movimento com dolorosas consequências sociais. Reforçou-se com a emergência de conceitos filosóficos no século XVII como o racionalismo, sobretudo pelas contribuições de Francis Bacon e René Descartes fundamentados em Aristóteles.

Contribuíram também as descobertas portuguesas que então permitiam aceder a novas e vastas geografias e desde então prover matéria-prima, esforço humano e energia através do colonialismo. Foi também a exploração intensiva de populações, quer nas colónias como metrópoles, cujo trabalho dependia de alguma forma de escravatura.

Enquanto foram poucos a beneficiar deste modelo económico, cuja criação de riqueza se baseava no controlo e acumulação de capital, o planeta conseguia recuperar perante as “pequenas” agressões. Entretanto, com a globalização, esse benefício expandiu para muitos mais humanos, mas apenas para se constatar que o planeta explorado é afinal (um sistema) fechado e muito limitado. E, assim, não dá para todos usufruírem como antes.


É condição necessária que a vida (e a humanidade) sobreviva. E, para tal, a única solução passará por mudar o paradigma económico: evoluir para uma espécie de pós-capitalismo. Algo muito difícil para os humanos apenas conscientes da sua envolvente próxima e desligados dos problemas dos outros, sobretudo os que estão longe da vista (e da televisão). Baseado no conceito de sistema deverá continuar a ser economia de mercado, sem dúvida a forma mais eficaz para se criar riqueza (como sempre aconteceu e copiando a própria natureza), mas não precisa de continuar o clássico modelo capitalista.

O modelo capitalista clássico é o que se baseia sobretudo na extração contínua e intensiva da Natureza (e até com novas formas de colonialismo), porque a sua base é materialista. O controlo e acumulação do capital favorece a concentração. Requer o consumo desenfreado pelas massas dos humanos para alimentar continuamente a máquina produtiva. Mas, esta, extrativa e poluidora, está a destruir o planeta que concede vida a todos.

A incompatibilidade é absurda! Deve mudar o principal objetivo que foca sobretudo o lucro imediato, sem consequências, pois excluí as exterioridades que produz, como as mazelas no ambiente, a suportar por terceiros, tanto os contemporâneos longínquos, como os filhos e netos do futuro.


Para o nosso Bem Comum, o novo modelo económico deveria ter uma ótica mais abrangente (ou até holística) e de longo prazo. Deveria ser mais desmaterializado, e hoje é possível graças à tecnologia, com o mote na partilha do uso dos bens materiais limitados no planeta, como já são partilhados o conhecimento e informação através da Internet. Em vez da destruição estéril da matéria que é escassa, o modelo deveria privilegiar a regeneração a copiar a Natureza.


Também o capital poderia ser mais partilhado como propõe Gates (1998), o que é cada vez mais possível com novos processos de titularização da propriedade, investimento institucional, aliados ao mercado global de capitais em alta expansão apoiado na Internet. Neste contexto, a criação de valor pode pouco a pouco dispensar o processo material de extração, produção, consumo e desperdício (na natureza na forma de esgoto, lixo, plástico, venenos). Mas, não há tempo para agir, urge ação para a mudança.


O valor criado pode provir sobretudo do uso partilhado dos bens cuja propriedade pode ser também partilhada. Este é o caso de conceitos como o UBER ou o airbnb, a partir destes emergem no imobiliário conceitos como o co-living ou o co-working. A ideia base é a partilha de uso, o interesse é a preservação do material, e o modelo de negócio é a exploração com rendimento no longo prazo, não o lucro imediato (Gomes, 2018).

Como sempre aconteceu, mesmo em negócios, o valor cria-se através de fluxos (seja matéria, energia, pessoas) entre unidades que os produzem e transacionam. Quase todas as cidades, principais centros de civilização e de progresso, dependeram de rios.

Até os oceanos, a preservar para a nossa sobrevivência (Guterres, 2022), têm sido (e serão ainda mais) a base essencial para a economia e o bem-estar global. Como sempre, o benefício e incentivo está na margem entre o valor apreciado pelo utilizador e o custo de produção por trabalho, manufatura, especialização, diferenciação, criatividade, inteligência. Todavia, na criação de valor, prevalecem cada vez mais as últimas atividades em relação às primeiras, mais materiais e que exigem esforço muscular.

São os conceitos de Hardware, Software e Humanware abordados em artigo anterior.

Nos processos produtivos interessa substituir os fluxos que são mais materiais (os dominados por átomos) por fluxos de energia (baseados em eletrões e fotões, mas não em toneladas de carvão ou galões de petróleo). Interessa propulsionar os fluxos que distribuem produtos da inteligência e criatividade (quando os neurónios são revertidos em bits que fluem na Internet ou se acumulam num disco rígido).


Não sei se iremos a tempo de sobreviver! A resistência à mudança é e será enorme. Desde as nações ao sistema produtivo e financeiro estabelecido que atrasam a mudança. Não será nunca fácil reduzir a capacidade produtiva baseada num modelo já estabelecido, pois implica falências, despedimentos, conflitos.


Existirão revezes. Para explorar livremente o planeta e outros humanos o que menos interessa é acolher a Equidade, a Ética, a Democracia, a Justiça, a Verdade, o Respeito (pelos outros e pelo Ambiente Natural), mas o contrário. Se são vários os políticos ocidentais democráticos que jogam contra estes altos atributos sociais apenas para ganhar e manter o poder pessoal, também não se estranhe a conduta mais extrema de regimes autocráticos na resistência à mudança.

São bons exemplos a Rússia, a China ou Coreia do Norte que precisam manter as suas economias muito dependentes da extração de matéria, de fontes fósseis de energia e da exploração de humanos para a produção! As guerras são apenas o espelho de resistência à mudança, servindo para atrasar e até reverter o status-quo.


Todavia, não pode ser esquecido que foram períodos de rotura politica-económica-social que levaram a grande transformação no passado. O momento atual é critico e pode despoletar as condições para a mudança global, embora com dor, infelizmente.


Lisboa, 27 de julho de 2022


João Correia Gomes (Ph.D., Mestre em construção, Engenheiro civil)


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