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  • Foto do escritorJoão Correia Gomes

ESPREITAM OPORTUNIDADES PARA A ENGENHARIA!?

Atualizado: 29 de mar. de 2021



A mudança que maioria consegue reconhecer é como a espuma do mar a navegar à vista, mas o que vem aí é um tsunami do tamanho do canhão da Nazaré.

Estaremos preparados?


Para ocorrer, o progresso carece de um ambiente específico que: estimule o talento, o risco individual (empreendedorismo); proteja a inovação; premeie o mérito sem o limitar à pertença a certa elite ou tribo; valorize a ciência e engenharia. Apenas algumas sociedades conseguem vencer as velhas tradições ancestrais e ultrapassar o statu-quo ou mentalidade corrente, os quais tendem a decapitar a razão. A nova atitude incentivou a cooperação positiva entre indivíduos, criaram uma cultura social favorável ao progresso. Nesta cultura disruptiva emergiu e expandiu a engenharia, a qual desenvolveu tecnologias que tornaram essas sociedades mais prósperas. Pode dizer-se que engenharia é sinónimo de progresso.


Como explicar o fenómeno? Um corpo vivo deve ser visto como um sistema que depende de fluxos para funcionar. A economia que estimula e alimenta a sociedade deveria ser pensada como um sistema (Gomes, 2018). O corpo e a economia vivem porque as suas unidades mais simples interagem e cooperam. Se tais fluxos forem interrompidos, morrem. Por exemplo, pode corresponder-se os glóbulos vermelhos no corpo vivo ao dinheiro na economia, ou os glóbulos brancos no primeiro aos atributos institucionais na segunda. Quando fluem, alimentam células (empresas ou imóveis) e bactérias (ou humanos produzir e consumir). Assim, o sistema complexo vive (reage e evolui).


A unidade básica de uma sociedade é o indivíduo. A economia vive porque os indivíduos estão livres para agir (são fluxos humanos) e porque fluem a informação, conhecimento, bens, água, energia ou capital. No passado, as civilizações prosperaram pelos fluxos físicos em que operaram – espaço urbano, saneamento, estradas, pontes, barragens, portos, carris de ferro. No presente, acrescentam-se fluxos mais intangíveis (informação) através da Internet ou redes WIFI. As primeiras, tangíveis, seriam mais grosseiras, ineficientes, de perceção mais fácil (sentidos); as segundas são globais, capilares, rápidas, mas menos controláveis.


Atualmente, a diversidade e velocidade dos fluxos cresce explosivamente. Inicia na escala ínfima da nano e biotecnologias, passa pelos indivíduos que compõem uma malha de grupos humanos em cooperação nas cidades, e estas (assim como universidades e empresas) interagem e combinam-se numa escala similar a um enorme cérebro mundial, como o proposto por Al Gore (2013). Todas as unidades, desde o ínfimo ao global, se conectam e interagem por Internet, Internet das coisas, redes de energia limpa, meios de locomoção eficientes não poluentes (desde a bicicleta a veículos de alta velocidade). Mas, este mundo de alta conexão e interinfluência depende de infraestruturas diferentes das existentes, pensadas há mais de 60 anos.


Vai ser preciso investir em novas infraestruturas. E muito.


Os próximos anos avivarão o abismo entre os níveis de desenvolvimento das sociedades humanas. Algumas ficarão presas a dogmas e tradições do passado. Outras, dinâmicas, irão operar rápida e eficientemente. A economia mais tangível será cada vez mais função da máquina que terá custos a tender para zero (Rifkin, 2014). Os humanos irão focar-se mais na economia de intangíveis com os cuidados interpessoais, criatividade, inteligência, cultura. As palavras de ordem serão humanização, desmaterialização, regeneração, digitalização. Ou ainda descarbonização, reabilitação, circulação, (nova) urbanização.


Em breve, até a digitalização - tecnologia de códigos binários baseados no silício - será ultrapassada. Poderá ser a biotecnologia a liderar a indústria, até mesmo a informação com tecnologia de computação baseada em ADN com capacidade muito superior.

Numa ótica civilizacional, o próximo salto será para um contexto que conjuga várias redes tipo Internet: Informação; Energia; Mobilidade; Logística. Este irá exigir um ENORME esforço de investimento para criar novas infraestruturas (Rifkin, 2019). A escala de investimento poderá ser comparável a eventos do passado, como em meados do século XIX (ferrovias e telegrafo) e do século XX (rodovias e rede elétrica).


Como antes, apenas algumas sociedades serão vencedoras no progresso e posicionar com vantagem no mundo da quarta revolução industrial. Outras adiarão o investimento para estagnar relativamente. A engenharia tende a ser valorizada nas primeiras e desprezada nas segundas sociedades. Será que o nosso país irá repetir comportamentos do passado?


A engenharia civil tem a função de projetar e executar todas as plataformas e canais físicos em que funcionam os fluxos que dinamizam a sociedade e economia.


Mantém-se oportunidade para a engenharia civil tradicional quanto à dotação das redes físicas existentes, como autoestradas, cidades e imóveis com teias e redes de fibra ótica, sensores, WiFi e outros gadgets que interliguem todos a todos. Será o primeiro passo para a implementação da Internet das coisas, à circulação banal de veículos autónomos, ao fácil carregamento por energia elétrica, produzida localmente em cada unidade imóvel por fontes renováveis, distribuída no princípio de rede pela Internet da Energia.


Para a União Europeia (Green Deal) trata-se da sua principal estratégia de crescimento. Alguns países irão aproveitar este trampolim para saltar para o próximo nível, e crescer. Outros países aproveitarão a oportunidade para “investir” na administração publica (se for essa opção não haverá muito trabalho para engenharia nem a meta do progresso).

A mobilidade de pessoas mudará radicalmente. O novo urbanismo tende a atrair população produtiva para viver nos centros das cidades, sobretudo de jovens e classe média ligados a serviços criativos e de informação. As cidades mais prósperas serão as que conseguem captar os melhores profissionais para nelas morarem. Atenção, é uma fórmula diferente da encetada nas anteriores revoluções industriais com primazia da habitação nas periferias, obrigando o uso diário do automóvel a consumir combustível fóssil (e impostos que proporcionam ao Estado). A manter a fórmula, tais economias estarão a estagnar.


Os transportes irão exigir forte investimento em infraestruturas que favoreça a concentração urbana, a distribuição e gestão de fluxos logísticos mais eficientes e a automatização dos processos (robôs, camiões autónomos, drones e muita Internet). As viagens de longo curso tenderão a ser diferentes das atuais dependentes de aviões que consomem combustíveis fósseis. É provável que no espaço europeu se promova o desenvolvimento de mais redes de comboios de alta velocidade, e até de tecnologias como o hyperloop. Os tradicionais aviões ficariam limitados a viagens intercontinentais com maiores veículos.


Mais do que no passado, as cidades serão os principais centros de criação de riqueza. São o modelo urbanístico com o consumo per capita de energia de aquecimento mais eficiente, mas também na produção e distribuição de alimentos, minimizam custos de transporte e armazém. Junta-se a vantagem da concentração de equipamentos sociais e a proximidade.

As grandes cidades estão já construídas. O edificado possui uma energia intrínseca que não convém desperdiçar como se faz as demolições. O potencial investimento nas cidades para integrar as redes de produção, armazenamento e consumo de energia pode ligar-se à oportunidade de reabilitar os seus imóveis (Rifkin, 2011). É um fator atrativo de capital de investimento que iria favorecer a procura por engenheiros especializados em reabilitação. As condições existentes nas cidades antigas, como as suas praças e ruas, criam ambientes que se aconselha manter e preservar. O princípio diretor deve ser a sua renovação e reabilitação.


Atenção, reabilitação deve ser reabilitação, não a destruição do imóvel exceto a fachada para, no interior do involucro, se construir um edifício novo. Uma solução muito mais cara do que se fosse feita a demolição integral. Esse tipo de “reabilitação” é mais uma intervenção (de aparências) que reforça a pobreza pela sua ineficiência e incompetência. A reabilitação deve preservar as melhores práticas e princípios construtivos do imóvel com a substituição de elementos não estruturais por componentes pré-fabricados na indústria.


Nos países de alto desenvolvimento, a indústria da construção está a beneficiar de enorme renovação, até por falta de mão de obra tradicional e por investidores que exigem eficiência. Ficam de fora do interesse de tais capitais as economias e o ambiente técnico-empresarial que insistem em manter os processos tradicionais, caros, ineficientes, não competitivos. Para atrair população em grande escala, que não quer comprar casa, são necessários modelos produtivos que integram a arquitetura, o marketing, a engenharia, o planeamento (projeto e financeiro) e a gestão de projeto em processos industrializados que utilizam de forma intensiva as máquinas e a energia de fontes renováveis.


Cabe aos engenheiros civis criar e desenvolver novos processos de construção de edifícios de acordo com os novos contextos em formação. Além do foco nos processos, a inovação deverá preferir o uso de materiais não poluidores e consumidores de alta energia como o aço e o cimento. Deverá procurar novos materiais a partir da biotecnologia em ascensão, podendo começar com a madeira e muitos dos seus derivados. Deverá procurar soluções de baixa energia que possam utilizar as fontes renováveis como os LSF.


No entanto, as maiores oportunidades para a profissão de engenheiro civil não estarão tanto na intervenção clássica. Numa sociedade baseada na tecnologia da informação em que os fatores mais intangíveis são os que têm mais valor, a intervenção dos engenheiros terá de evoluir para outro patamar.


Esse assunto será tema de próximo artigo.


Lisboa, 15 de março de 2021


João Correia Gomes


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