Joaquim Nogueira de Almeida

12 de mar de 20214 min

PORTUGAL NÃO SABE INVESTIR NA EFICIÊNCIA TÉRMICA

Atualizado: 29 de mar de 2021

A EFICIÊNCIA TÉRMICA NÃO SE FAZ COLOCANDO LAREIRAS, CALDEIRAS, RECUPERADORES DE CALOR, BOMBAS DE CALOR, ETC. FAZ-SE SIM COM BOM E BARATO ISOLAMENTO TÉRMICO

Em Setembro de 2020 fiz um pequeno artigo sobre o Programa de Apoio a Edifícios Mais Sustentáveis que já vinha no seguimento dum programa anterior da Casa Eficiente 2020.

Expus a diferença de abordagem entre Portugal e França nesta matéria, e o que o novo programa trazia para incentivar uma melhoria na eficiência térmica das nossas habitações.

Pela 1ª vez na vida candidatei-me a um fundo perdido do governo e acabei por colocar uma Bomba de Calor com 2 ventiloconvectores que ficaram a 30% do seu custo, tendo tido uma comparticipação de 70% ao abrigo do referido programa. As obras de construção civil foram feitos em regime de bricolage, já que não eram elegíveis.

O processo correu dentro de alguma normalidade, apesar de ter ouvido um certo ruído na elegibilidade dos candidatos e na alguma falta de transparência. Na verdade 3-4 meses depois, acabei por receber a comparticipação do estado.

Perante esta experiência e depois de ter estudado os investimentos elegíveis na sua tipologia, valor de investimento e configuração de elegibilidade, cheguei à conclusão que quem faz estas leis ou percebe pouco de Eficiência Energética em Edifícios ou é mal aconselhado.

Andamos a investir, o estado e os contribuintes fiscais, ou seja todos nós que alimentamos estes programas, em soluções que são na maior parte da vezes um face lifting em vez de soluções de base e é por isso que PORTUGAL CONTINUA A TER AS CASAS FRIAS NO INVERNO.

Os dados surgem no estudo do Eurostat, onde se conclui que cerca de um quinto dos portugueses (19,4%) não revelou capacidade financeira para fazer face aos custos do aquecimento na hora de enfrentar os meses mais frios. Segundo o relatório do gabinete estatístico europeu, apenas países como Bulgária (34%), Lituânia (28%), Grécia (23%) e Chipre (22%) registaram um número superior a Portugal de cidadãos afetados por este problema, ainda longe da média da União Europeia fixada nos 7,3%.

A esta péssima prestação na qualidade de vida dos cidadão está ligado o problema de uma energia de custo elevado comparativamente com o nível médio de rendimentos, mas essencialmente à perdas energéticas que acontecem na maior parte dos edifícios em Portugal.

O grande problema é o isolamento térmico, que em termos simplistas é bastante fraco nas paredes e nas janelas, sendo muito comum a existência de pontes térmicas que acabam por potenciar condensações no interior das casas, criando problemas de humidades e de fungos.

Acresce a este problema, as questões não menos importantes de infiltrações frequentes e até de mau isolamento sonoro, especialmente em cidades.

Então em que é que o estado está a financiar 70% dos custos, para que os cidadãos tenham uma CASA + EFICIENTE?

· Bombas Calor, Caldeiras e Recuperadores de Calor que são consumidores de energia.

· Painéis Fotovoltaicos (rentabilidades a 7-10 anos)

· Janelas Mais Eficientes

· Isolamento Térmico de Fachadas, Coberturas e Pavimentos , desde que…......., sejam usados ecomateriais ou materiais reciclados.

Se pensarmos em termos efectivos em baixar o consumo de energia a curto, médio e longo prazo, as soluções a adoptar deveriam ser concentradas unicamente em ISOLAMENTO TÉRMICO MAIS EFICIENTE, ou seja, com mais Isolamento Térmico de Coberturas (onde se perde a maior parte da energia) e Fachadas, e em Janelas com maior isolamento térmico. As outras situações apesar de terem o seu valor não têm nem de perto o mesmo custo/benefício na qualidade real vida e conforto para os cidadãos.

Assim, claramente o limite de financiamento não está feito para uma eficiência energética duradoira, mas mais para os instaladores/vendedores de equipamentos.

Igualmente se pensarmos que o isolamento térmico com ecomateriais ou materiais reciclados têm um maior componente de investimento financeiro, estamos a limitar ainda mais a escolha desta opção por parte dos cidadãos, mantendo uma pobreza na eficiência energética dos edifícios.

O uso do EPS – Poliestireno Expandido, vulgo “esferovite”, apesar de não ser “eco” é barato e a sua utilização num isolamento tipo ETIC permite só por si economizar muita energia e logo muita libertação de CO2. Aqui, o óptimo (ecomaterial) é mesmo inimigo do bom (mais isolamento).

Sabendo que uma parte substancial da população mora em prédios, a solução de isolamento da fachada, que a meu ver deveria ter um programa específico, está posta de parte neste programa, por obrigar não só á aprovação dos condóminos destas obras (situação de difícil concordância devido aos custos envolvidos), mas também à necessária agilização junto das Camaras Municipais para esta tipo de obras em fachada.

A maior parte dos prédios executadas até 2000 têm problemas de isolamento térmico essencialmente pela quantidade de pontes térmicas existentes nas zonas de fachad junto às estruturas de betão armado. A juntar a isso, há o uso generalizado de caixilharia de alumínio sem corte térmico que também potencia problemas térmicos e de condensação, mesmo com vidros duplos.

Em conclusão, os incentivos deveriam concentrarem-se no isolamento térmico de toda a envolvente dos edifícios (fachadas, janelas e cobertura), com uma maior percentagem de apoio a nível colectivo para prédios.

Países mais ricos e mais frios como a França, têm programas com incentivos 3 vezes superiores e mais eficazes em termos de custo benefício. Só por isso deveriam ser um exemplo a seguir.

Veja aqui uma solução de uma obras de renovação de fachada com um grande e eficaz aumento de isolamento térmico.

Joaquim Nogueira de Almeida

Joaquim.N.Almeida@gmail.com

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