O FUTURO NA CONSTRUÇÃO, EM PORTUGAL
Uma das grandes industrias que tem fortes repercussões a nível económico, ambiental e consequentemente na sociedade no seu todo, é a Industria da Construção.
É uma industria com enormes consequências a todos estes níveis, uma vez que tem implicações no quotidiano de todos e afecta directamente a qualidade de vida, sendo fortemente influenciada pelo ambiente natural e pelas construções já existentes
O homem começou a construir, primeiramente para melhorar o seu abrigo e depois evolutivamente para o desenvolvimento das suas actividades. Obras como a grande muralha da China, as pirâmides do Egipto ou os jardins suspensos da Babilónia, que têm hoje a sua continuidade na construção das grandes cidades, nas linhas ferroviárias que atravessam os continentes, entre outras obras, fazem deste mundo um planeta cada vez mais global, cada vez mais moldado às ambições e desejos do ser humano, via a construção.
A indústria da construção serve de suporte à grande maioria das indústrias uma vez que qualquer criação de valor económico de alguma forma está sempre ligada ao imobiliário ou a outras "construções". Para além desta industria ser responsável por aproximadamente 6% do PIB global, ela também é a maior consumidora mundial de matérias-primas. Tendo as “construções” uma pegada ecológica estimada em mais de 35% do total mundial na emissão de dióxido de carbono.
Portugal e a desqualificação profissional
Após a reconstrução de Portugal durante os vinte anos a seguir à entrada na União Europeia, em grande parte com os apoios recebidos desta, surge em 2011 uma crise que atingiu severamente o país. Crise essa, que obrigou e ainda obriga a viver momentos de desalento na industria da construção civil. Os anos anteriores a 2011, foram tempos de grande actividade e dinamismo que criou e formou técnicos experientes, mas que de repente se viram sem actividade, criando uma ruptura abrupta de uma industria que era o sustento de uma grande parte da sociedade. O desalento instalou-se. No entanto, aos poucos os profissionais e as industrias adaptaram-se, apostaram mais na internacionalização e surgiu igualmente o crescimento de nichos como o da construção metálica e da reabilitação.
Contudo, o país sofreu uma grande desqualificação profissional com a saída de Portugal de mais de 10.000 Engenheiros Civis e de mão de obra qualificada, bem como a perda de competências por falta de continuidade na actividade de muitos dos profissionais que se mantiveram no país. Timidamente Portugal retomou alguma actividade na construção consequência de alguma retoma económica e do boom na reabilitação urbana das principais cidades devido ao aumento do turismo e da procura de habitação para residência de estrangeiros com elevado poder económico. Esta retoma tem sido feita com falta dos Engenheiros Civis com mais experiência e tem-se refletido numa fraca evolução técnica da ICC.
Qual será o futuro na construção em Portugal?
São várias as grandes tendências globais que estão a moldar o futuro na construção. E Portugal tem de se requalificar e fazer uma rápida actualização para as tendências mundiais desta industria. Se não, corremos o risco de virmos a ser novamente grandes dependentes técnicos do exterior e deixarmos de ser um país que atingiu um elevado reconhecimento técnico da sua Industria da Construção para voltarmos a ser um país exportador de “pedreiros e serventes” e importadores de mão de obra não qualificada do 3º mundo.
Ao contrário de outras indústrias, a da construção tem uma inércia muito grande em adoptar novas tecnologias e certamente nunca passou por uma grande revolução, tendo tido na pré-fabricação a maior transformação nos métodos de construção no século passado. Como resultado, a produtividade estagnou nos últimos 40 anos, em alguns casos, até declinou em certas situações.
Esta situação parece prestes a mudar muito em breve e de forma muito dramática. De facto, mudanças profundas já estão a acontecer, embora ainda não em escala suficientemente ampla em muitos aspectos da indústria da construção.
Segundo o WEF (World Economic Forum) o futuro da Engenharia e Construção está essencialmente relacionado com o crescimento das cidades, o desenvolvimento das infraestruturas, o aumento da sustentabilidade (actualmente responsável por 30% das emissões globais de CO2), a visão dos líderes políticos e em muito com a inovação tecnológica.
O avanço tecnológico é fundamental para subirmos de patamar na industria da construção e a sua principal chave está na digitalização.
Cada vez mais os projectos de construção estão a incorporar sistemas de sensores digitais, máquinas inteligentes, dispositivos móveis e novos aplicações de software sendo que o desafio actual é conseguir a sua adopção generalizada e um desempenho adequado. Nos aspectos onde as novas tecnologias já penetraram adequadamente, as perspectivas são de uma redução de quase 20% nos custos totais do ciclo de vida de um projecto, bem como melhorias substanciais no tempo de conclusão, qualidade e segurança.
Os avanços tecnológicos estão a revolucionar quase todos as fases do ciclo de vida das construções, desde a concepção até à demolição.
Tecnologias como o BIM (Building Information Modeling), o aumento da automação e o aparecimento de robots, da impressão 3D, da IA (Inteligência Artificial) já estão a ser incorporadas em muitos aspectos da industria de construção civil, mas há também o aparecimento de exosqueletos para facilitar o trabalho manual dos operários da construção civil, novos equipamentos mais fáceis de utilização, de novos materiais de construção mais leves, mais resistentes, mais eficazes, mais sustentáveis, outros mesmo auto reparadores. Estes exemplos são o futuro que já está aí ou que chega a grande velocidade.
O PRR - Plano de Recuperação e Resiliência
De uma forma crónica, Portugal tem na sua política de investimentos uma estratégia desintegrada daquilo que é o "best value for money". O excesso de autoestradas e a penúria de linhas ferroviárias, a construção de aeroportos desajustada com as necessidades, são alguns dos exemplos de como há uma intencional vontade de favorecer certos actores da ICC (Industria da Construção Civil) e de grupos empresariais, em vez de serem objecto de uma escolha racional, do seu custo-benefício. A evolução sustentável não se faz assim.
Veio uma pandemia a nível mundial e agora uma guerra nas fronteiras da Europa, e Portugal fica cada vez mais numa posição de debilidade devido ao seu endividamento, e incapacidade de tomar decisões de investimento que aportem valor à sociedade, em vez de a um grupo habitual de beneficiários que incluem grupos empresariais e políticos associados. Certamente não é assim que pretendemos moldar o nosso mundo.
Perante o atraso sistémico em termos de gestão e capacidade de investimento racional dos dinheiros públicos, Portugal devido à pandemia vai ser beneficiário de valores vindos da Europa, sendo uma nova oportunidade de Recuperar a demora em implementar uma ICC mais evoluída. O PRR, que foi desenhado por um independente, que o deixou de ser ao aceitar o cargo de ministro, tem aproximadamente 1 918,8 Milhões de euros alocados a projectos onde a ICC intervêm. Dos quais 753 Milhões de euros vão para a expansão do Metro nas zonas de Lisboa e Porto e 304 Milhões para estradas, ou seja mais de metade vão para obras publicas e um numero muito selecto de empresas da ICC.
Sendo assim como é que a ICC em Portugal pode evoluir? estamos a colocar de novo o investimento de RECUPERAÇÃO E RESILIÊNCIA concentrados na obra publica e em muito poucos beneficiários.
Esperava-se mais de quem deveria ter uma visão de futuro.
A industria da construção continuará a moldar o mundo e a ser o suporte da nossa sociedade e da sua qualidade de vida.
Portugal precisa de continuar a construir e para isso temos de continuar a evoluir em todas as áreas da Industria da Construção, mas também nas mentalidades.
Joaquim Nogueira de Almeida
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